"NÃO FOI O GOVERNADOR, FOI MINAS" - COMO A IMPRENSA CONSEGUE AMENIZAR
UMA SAIA JUSTA
Os leitores da Folha de S Paulo foram surpreendidos no domingo (ontem) por um ataque indireto ao senador Aécio Neves, candidato do PSDB a presidente da República – “Minas fez aeroporto em fazenda de tio de Aécio”, dizia a manchete do diário paulista. No texto logo abaixo, o jornal conta que, quando governador, em 2010, Aécio mandou construir, com dinheiro público, um aeroporto na fazenda de um tio – que o senador usa regularmente.
A obra
custou R$ 14 milhões e só serve à família do senador ou a aeronaves que ela
autoriza, pois o governo de Minas nunca entregou à ANAC, Agência Nacional de
Aviação Civil, os papéis necessários à sua homologação. Portanto,
objetivamente, a instalação segue sendo uma obra privada feita com dinheiro
público.
Na mesma edição e em texto de tamanho proporcional à reportagem que faz a denúncia, a assessoria do senador responde que a escolha do local levou em conta apenas aspectos técnicos, não considerando que a propriedade do imóvel favorecia diretamente o então governador.
Na mesma edição e em texto de tamanho proporcional à reportagem que faz a denúncia, a assessoria do senador responde que a escolha do local levou em conta apenas aspectos técnicos, não considerando que a propriedade do imóvel favorecia diretamente o então governador.
O Estado de
S Paulo reproduziu no mesmo dia a denúncia da Folha, em um texto mais curto,
incluindo a defesa de Aécio Neves, acrescentando que no local havia uma pista
construída em 1983 por seu avô, Tancredo Neves, quando era governador do
Estado. Ou seja, a família se beneficia das instalações há mais de 30 anos,
agora modernizadas com recursos do Estado. Ou há outra interpretação para a
sequência de notícias?
Hoje, 21, os
2 jornais paulistas voltam ao assunto, para oferecer um amplo espaço à defesa
do candidato tucano, e o Globo entra na história, publicando com destaque a
justificativa de Aécio Neves, sem ter publicado antes a denúncia.
O conjunto do
noticiário serve de modelo para o leitor entender o estilo que deverá marcar a
imprensa hegemônica até o fim da campanha eleitoral – para amenizar as
suspeitas de que tende para um dos lados da disputa, dá-se, como se dizia
antigamente, uma no cravo, outra na ferradura.
Aeroporto particular
Aeroporto particular
O cuidado em
amenizar o efeito da reportagem diz muito sobre a atenção que a imprensa dedica
ao seu candidato preferencial. Diante de um fato que induz claramente à
conclusão de que a família Neves transformou um antigo campo de pouso em
aeroporto particular com dinheiro público, e que a decisão de tocar a obra foi
feita pelo então governador Aécio Neves, qual é a alternativa?
Já que não se
pode esconder o fato, cria-se na própria denúncia a condição propícia à defesa.
A começar pelos títulos: tanto na Folha como no Estado, não foi o então
governador quem autorizou o uso de dinheiro público no interesse da própria
família: foi “Minas”. Ora, “Minas” não pratica atos de ofício, “Minas” não
assina autorização para obras com ou sem licitação. Quem assina é o governante,
e o governante é agora candidato a presidente da República.
De que,
então, tratava a manchete da Folha no domingo? Tratava do cuidado mínimo que o
jornal precisa dedicar à cobertura da disputa eleitoral, porque o engajamento
permanente e descarado em uma ou outra candidatura pode prejudicar outros
interesses da própria empresa que edita o diário.
Por exemplo,
se o público desenvolver a convicção de que a Folha apoia explicitamente uma
candidatura em detrimento das outras, quanta confiança será depositada em
futuras pesquisas do Datafolha?
Então, se
determinado fato não pode deixar de ser publicado, porque a omissão colocaria
em risco a credibilidade do jornal, dá-se um jeito de preservar no que for
possível a reputação do candidato acusado.
Em nenhuma
outra ocasião, nos muitos escândalos que a imprensa reportou nos últimos anos,
a autoria foi desviada do personagem central para a figura diáfana do Estado.
Apenas como referência, no caso que tinha como acusado o ex-governador do
Distrito Federal José Roberto Arruda, não se leu nos jornais que “Brasília é
condenada por improbidade administrativa”.
Mas no caso
do aeroporto privado feito com dinheiro público, não foi o então governador
quem cometeu o malfeito: foi “Minas”.
Comentários de Paulo Henrique
Amorim:
Outra razão para a
Fel-lha se permitir detonar o Arrocho Neves: porque ele é mineiro.
Se fosse paulista, metido até o talo na Privataria Tucana, ou com o Príncipe da Privataria, na Operação Banqueiro, aquela que demonstra que, sem o Gilmar, não haveria Dantas, se fosse paulista o Arrocho estava salvo. Seria até um
benemérito da aviação civil…
Por falar nisso, Otavinho, de que vive o Cerra ?
Paulo Henrique Amorim
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