domingo, 11 de janeiro de 2015

O ódio, preconceito e fanatismo que infestam a Europa germinam também no Brasil

Seguem dois artigos, o primeiro de Eduardo Guimarães, do Blog da Cidadania, e o segundo de Mauro Santayana, extraído de seu próprio Blog:


Ódio, preconceito e fanatismo que infestam Europa, germinam no Brasil

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ódio capa

Costumamos olhar para tragédias como a que ceifou 12 vidas na cosmopolita Paris com um misto de alívio e distanciamento. Ao longo da vida, todos já ouviram e/ou proferiram a teoria de que “pelo menos não temos esse tipo de problema, no Brasil”.
Será mesmo?
Passeando pelas análises publicadas pela imprensa, pelas redes sociais e pela blogosfera brasileiras sobre o episódio Charlie Hebdo, pode-se extrair algumas conclusões básicas, necessárias a esta análise:
1 – A revista Charlie Hebdo, se não é de “extrema-esquerda”, ao menos é esquerdista.
2 – Apesar de “esquerdista”, a revista fustiga o Islã, cujo maior inimigo, atualmente, é a estrema-direita, inclusive a francesa, que quer expulsar os muçulmanos da França enquanto alardeia uma ridícula “islamização do Ocidente”.
3 – Apesar de as vítimas dos dois (?) fanáticos (pseudo) islâmicos serem esquerdistas, o atentado está favorecendo a extrema-direita europeia, talvez porque o anti-islamismo da revista se identifica com o da ultradireita francesa.
4 –  Muçulmanos de várias nacionalidades que hoje vivem na Europa acabam de se tornar alvos em potencial do extremismo xenófobo de direita que se agiganta no Velho Mundo – na França, por exemplo, Marine Le Pen, filha do líder de ultradireita Jean Marie Le Pen, da Frente Nacional (FN), lidera (!!) as pesquisas para a sucessão de François Hollande.
ódio 1
5 – Apesar de a Europa abrigar uma imensa população muçulmana, essa população vive acuada pelo ódio, pelo preconceito e pela intolerância de grande parte das populações europeias autóctones.
Foi justamente no continente europeu que eclodiram as piores guerras da era moderna, sendo, duas delas, guerras “mundiais”. E essas guerras que conflagraram as nações supostamente mais avançadas (socialmente) do planeta decorreram, em boa medida, da intolerância étnico-cultural-religiosa.
Desloquemo-nos, agora, milhares de milhas ao Sul do planeta, até uma nação imensa e ainda mais multiétnica do que as nações europeias. Uma nação onde o fascismo de ultradireita entrou em ascensão após os protestos tresloucados de junho de 2013.
O Brasil tem seus “muçulmanos”, ou seja, uma população “imigrante” e “estrangeira” em seu próprio país. O ódio aos nordestinos que viceja no Sul e no Sudeste do Brasil em muito se assemelha ao que vige contra muçulmanos na Europa.
A intolerância política, “racial”, cultural contra os nordestinos, assim como na Europa, vai crescendo também no Brasil, inclusive com outro ingrediente explosivo, a religião. Ainda que não tenhamos discriminação de religiões, no Brasil temos religiões que discriminam comportamentos e opções políticas.
Claro que ainda não chegamos ao ponto de graves confrontos físicos. Por conta disso, o título deste texto alude a que essas infestações ideológicas apenas “germinam” por aqui, mas germinam continuamente.
Grupos de ultradireita pregam o fim da democracia, proibição de partidos políticos, assassinatos e tortura de esquerdistas, repressão violenta a homossexuais, impunidade ao racismo etc., etc., etc.
Esse tipo de gente já foi minoria na Europa central moderna. Hoje, o mundo assiste, com preocupação, a possibilidade de a França eleger, para a sucessão de François Hollande, a filha de Jean Marie Le Pen…
O horror, o horror!
O ataque ao semanário Charlie Hebdo também providencia uma segunda reflexão: o papel da imprensa no aquecimento do ódio, do preconceito e do fanatismo. O poder da comunicação, acima de políticas de Estado, gerou a tragédia em Paris.
No Brasil, a comunicação tem sido responsável pelo recrudescimento do ódio político-ideológico. O vídeo abaixo revela um processo que germina no Brasil e que, para crescer ao ponto do europeu, precisa, apenas, de continuidade e tempo…

               

NAZISMO ENTRE NÓS



Por Mauro Santayana, em seu blog:

Nos últimos tempos fez fama na internet a imagem de uma suástica no fundo de uma piscina, no quintal de uma casa de Pomerode.


Seu proprietário foi identificado, posteriormente, como o professor Wandercy Pugliese, que dá aulas em “cursinhos” na região, e já teve vasta coleção de objetos de inspiração nazista apreendidos pela polícia em sua casa, na década de 1990.

Agora, surge a informação de que um Comandante do Batalhão de Choque da Polícia Militar do Rio de Janeiro, foi exonerado de seu cargo pelo Secretário de Segurança José Beltrame, por trocar mensagens de cunho nazista com outros oficiais e subordinados pelo What’ s Up e defender, jocosamente, o assassinato de manifestantes.

Resgatando o Sigma, símbolo do Integralismo, existe uma página, no Facebook, do "Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Brasileiros", tradução literal do "Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei," o Partido Nazista alemão de Adolf Hitler.

O mesmo Sigma pode ser encontrado em sites integralistas, como o do Movimento Integralista e Linearista Brasileiro, ou da SENE - Sociedade de Estudos do Nacionalismo Espiritualista, e no peito do Galo Tupã, "mascote" da doutrina, pisando o verme “comunista-liberal" que ameaça o Brasil.

Filhote do fascismo, e semelhante ao nazismo, a Ação Integralista Brasileira, chefiada por Plínio Salgado, a exemplo das doutrinas que a inspiraram, não se dizia, malandramente, nem como de "direita", nem de "esquerda".

Com “Deus, Pátria, Família”, como slogan, ela chegou a contar com dezenas de milhares de simpatizantes no Brasil, até uma frustrada tentativa de golpe contra Getúlio Vargas, em 10 de maio de 1938, quando foi proibida e colocada na clandestinidade.

Hoje, os integralistas tentam reviver, a partir da internet, por meio da FIB - Frente Integralista Brasileira, que organiza congressos e palestras, e também de outros grupos, sites e fóruns como os que já citamos antes.

O nazismo tupiniquim, tão ridículo quanto absurdo, quando defendido e praticado em uma das nações mais miscigenadas e universais do mundo, está presente também nos bandos de skinheads que agridem verbal e fisicamente, judeus, nordestinos, negros e homossexuais, principalmente em São Paulo e na Região Sul do país.

Em tempos de ressurreição do discurso anticomunista, que insiste em colocar comunismo e nazismo no mesmo saco, embora o primeiro nunca tenha construído câmaras de gás e fornos crematórios, ou perseguido alguém por critérios raciais, e tenha combatido e derrotado implacavelmente o segundo, da memorável Batalha de Stalingrado, até o suicídio de Hitler em seu bunker, para não ser capturado e julgado pelos soviéticos, em 1945, nunca é demais lembrar que o nazismo deve ser combatido sempre que apontar a cabeça para fora do esgoto da História.

Mesmo quando apenas simbólicos, os ovos da serpente devem ser esmagados ainda no ninho, para que não possam germinar nem eclodir.

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