segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

2015, o ano em que o fascista de Facebook pulou para a vida real


  "O discurso de ódio finalmente se transformou em violência física, na melhor tradição fascista. Muito se deve a gente como Marcello Reis, o fundador dos Revoltados Online, um pioneiro, uma espécie de australopiteco da histeria virtual. Ele foi seguido por outros líderes golpistas, como Kim Kataguiri e Fernando Holiday, do MBL, entre outros e outras." - Kiko Nogueira


Profissão: revoltado online

Texto de Kiko Nogueira no Diário do Centro do Mundo (também publicado no Outras Palavras, de onde foi retirado o texto e o vídeo apresentado ao final)

2015 foi o ano em que o fascista que já havia transformado o Facebook numa festa de família disfuncional interminável finalmente saiu para a rua.

Uma rápida cronologia (eventualmente, incompleta):
  • Em fevereiro, o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega foi hostilizado no hospital 
  • Albert Einstein, em São Paulo. Num hospital, repito. “Não tem vergonha na cara! 
  • Vai para o SUS!”, gritava uma mulher
  • Em maio, o mesmo Mantega foi xingado num restaurante caro por dois animais 
  • (Acabou processando-os. Foram obrigados a um pedido de desculpas fingido)
  • No mesmo mês, Alexandre Padilha, ex-ministro da Saúde e atual secretário de 
  • Relações Governamentais da cidade de São Paulo, teve de se retirar quando almoçava 
  • por causa de uma turma ruidosa que pediu uma salva de palmas irônica em sua 
  • “homenagem”
  • Em julho, um bolsonarista invadiu a comitiva de Dilma em Washington e passou a gritar 
  • impropérios. Só parou quando apareceu a segurança do lugar
  • Em outubro, fascistas desrespeitam o velório do ex-presidente do PT, José Eduardo Dutra, 
  • em Belo Horizonte e distribuem panfletos com a inscrição "Petista bome é petista morto'". 
  • (N.E.: acrescentado ao original)
  • Em novembro, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Patrus Ananias, ouviu 
  • ofensas de um sujeito acompanhado da mulher em Belo Horizonte. O homem  se 
  • acoelhou depois que Ananias perguntou seu nome
  • Eduardo Suplicy, em outubro, levou dedo na cara, ameaças e perdigotos de extremistas 
  • na Livraria Cultura, especialmente de uma senhora apoplética
  • Há uma semana, Chico Buarque foi cercado por playboys no Leblon que não se conformavam 
  • com seu apoio ao PT. Um deles, um desqualificado chamado Guilherme Mota, o chamou de “merda
Provavelmente estou esquecendo outras ocorrências. Todas essas agressões tiveram como cúmplices os responsáveis pelos locais onde elas ocorreram. Ninguém, desde a direção até o gerente ou o garçom, esboçou qualquer gesto próximo de uma defesa das vítimas.

O discurso de ódio finalmente se transformou em violência física, na melhor tradição fascista. Muito se deve a gente como Marcello Reis, o fundador dos Revoltados Online, um pioneiro, uma espécie de australopiteco da histeria virtual. Ele foi seguido por outros líderes golpistas, como Kim Kataguiri e Fernando Holiday, do MBL, entre outros e outras.

Eles contaminaram as redes com uma liberdade total para caluniar, mentir, difamar, inventar — tudo numa aceleração mental permanente, como se pelotões comunistas estivessem à frente deles, nus, prontos a subjugá-los ali, naquele momento.

O mau comportamento transbordou. De repente, a cunhada estava xingando a sobrinha de imbecil, o primo acusava o irmão de receber dinheiro de Cuba, amizades de 40 anos romperam etc.

Nas manifestações, crianças foram expostas a adultos mandando Dilma tomar no cu e velhinhas de praça carregavam cartazes com frases do tipo “Por que não mataram todos em 64?”.

Para usar uma imagem gasta, o ovo da serpente foi chocado. O que falta para esse “povo de bem” pegar uma porrete para bater nos “inimigos” em 2016? Nada.

O que estava confinado às margens da vida social e política tornou-se mainstream. Uma vez que essa 
delinquência passa a ser aceita, ela corroi a democracia e deixa tudo mais fraco e dividido.

Essa canalha não será a primeira a fazer a transição do ridículo para o perigoso e, finalmente, para o trágico. A vantagem é que, neste ano, tudo ficou claro como o dia e você não terá o direito de se surpreender. Mais do que isso, ficou evidente o nosso dever de reagir.

Kiko Nogueira
No DCM

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