sábado, 30 de maio de 2015

A inteligência surreal do ex-astrólogo e mentor da direita golpista, Olavo de Carvalho, criticando os cientistas



Imaginem, então, como deve ser a mentalidade dos que seguem este ex-astrólogo e falso filósofo? O "menino maluquinho" Rodrigo Constantin, o "escaravelho rola-b..." Reinaldo Azevedo Diogo Mainardi e o "menino prodígio" Kim Kataguri estão entre seus admiradores....

A dobradinha sabotadora, pró interesses empresariais: Eduardo Cunha e Gilmar Mendes


Um retardou o julgamento no STF; outro agiu contra a constituição e manobrou para a Câmara aprová-lo: para ambos o financiamento empresarial de campanha era questão de honra

A dobradinha Gilmar Mendes-Eduardo Cunha






A dobradinha Gilmar Mendes-Eduardo Cunha

Por Maria Inês Nassif, na Carta Maior


   Se for definitivamente aprovada pelo Congresso a emenda constitucional que vai condenar o país a uma convivência forçada e duradoura com o financiamento empresarial de campanhas eleitorais, será graças a manobras de duas personalidades com grande dificuldade de conviver com o contraditório: o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e o ministro Gilmar Mendes, do STF.

  No STF, Mendes interrompeu com um pedido de vistas, em 2 de abril, o julgamento de uma ação direta de inconstitucionalidade  (Adin) de autoria da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) que argui a constitucionalidade da doação empresarial de campanha. O ministro botou o julgamento de seus pares na sua gaveta e tem esperado. Aguardou tempo suficiente para Cunha tirar de outra gaveta, a da Câmara, uma proposta de emenda constitucional que, se aprovada, vai tornar muito complicado ao STF declarar a inconstitucionalidade da Adin.

  Uma vez que o Congresso defina como direito constitucional dos políticos e partidos receberem doação de empresas, o STF vai arrumar uma encrenca brava com o Congresso se disser o contrário.
Essa era uma intenção explícita de Mendes. Pressionado a desengavetar o julgamento da Adin, ele afirmou: “Temos que saber antes, e o Congresso está discutindo, qual o modelo eleitoral, para saber qual o modelo de financiamento adequado.” Indagado se essa não era uma posição contrária à maioria do STF, Mendes afirmou: “Isso é provisório, o resultado de seis a um é quando se dá a votação. Depois mudam-se os votos.”

  Mendes, portanto, sabia que iria ser voto vencido no julgamento da Adin– o placar de votação já estava em seis votos contra a permissão de financiamento empresarial e apenas um a favor – e passou por cima da decisão de seus pares. Não deu para ganhar no voto, foi no grito.
Se a Câmara confirmar a aprovação do financiamento empresarial, e se o Senado, em dois turnos, entender dessa forma, Mendes terá feito prevalecer a sua opinião minoritária sobre a de todos os outros ministros do STF que entenderam não ser constitucional uma empresa financiar campanha, porque empresa não é eleitor.

  Do lado de lá da Praça dos Três Poderes, no Congresso, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), armou para aprovar, em primeiro turno, a emenda constitucional que torna legítima a doação empresarial de campanha. Foi uma vacina contra uma futura decisão do STF, retardada pelo pedido de vistas de Mendes. A permissão para doação existe na lei que, se declarada inconstitucional, deixaria de valer. Tornando-se uma emenda constitucional, fica mais difícil ao STF manter esse entendimento.

  Para garantir a aprovação do dispositivo, o presidente da Câmara amarrou uma série de compromissos, pressões e chantagens sobre as  bancadas – em especial as dos parlamentares eleitos com forte financiamento empresarial e as dos pequenos partidos, que têm muito a perder se outros itens, como cláusula de barreira e fim das coligações, forem aprovados dentro dessa reforma constitucional de Cunha, que é a antítese de tudo o que se discutiu, entre entidades da sociedade civil, como mudança necessária para “democratizar a democracia” brasileira e reduzir o poder do dinheiro na política.


Na madrugada de quarta-feira, esse era um assunto praticamente encerrado, pois o artigo da reforma política que constitucionaliza o financiamento empresarial de campanha não teve número suficiente de votos no plenário. Como o regimento do Congresso impede que um assunto derrotado em plenário seja recolocado à votação no mesmo ano, esse seria um risco encerrado para seus opositores. Não foi o que entendeu Cunha. Passando por cima de regimento, o presidente da Câmara recolocou o assunto em pauta, não no mesmo ano, mas na mesma votação. E ganhou.

  Até agora, a vitória de Cunha foi ter mantido na reforma política que ele quer fazer o financiamento empresarial de campanha. Ainda faltam uma votação na Câmara e duas no Senado para que isso vire norma constitucional.  O que essa semana traz de assustador, contudo, é a desenvoltura com que que o império da vontade de duas únicas personalidades da República se impõe a todos os demais.

  A rejeição do dinheiro de empresas em campanhas eleitorais tem tantas razões éticas que
aparentemente é incompreensível uma mobilização tão grande de personalidades, forças e chantagens políticas para mantê-lo. O entendimento de que a democracia é mais democrática se todas as pessoas tiverem as mesmas condições de influenciar uma decisão pública não é uma questão ideológica, é um fato, uma obviedade. Cunha e Mendes, todavia, tomaram a permissão do financiamento empresarial de campanha como uma questão de honra e, para revesti-la de alguma nobreza, colocaram-na no rol de brigas a serem vencidas nas disputas frequentes com o governo, que rendem a simpatia da elite brasileira e dos meios de comunicação.

 Isso, todavia, é apenas uma tentativa de vender a decisão favorável à doação empresarial como um bom princípio. Mas não é. Suas manobras se prestam unicamente a manter o status quo de um sistema político em que valem os interesses dos eleitores mais poderosos, aqueles que detêm dinheiro suficiente para financiar políticos.

Fotomontagem: Carta Maior com fotos do Facebook do Chico Alencar e EBC

sexta-feira, 29 de maio de 2015

Eduardo Galeano sobre banqueiros e tecnocratas frios, calculistas, burocratas e desumanos




Os banqueiros da grande bancaria do mundo, que praticam o terrorismo do dinheiro, podem mais que os reis e os marechais e mais que o próprio Papa de Roma. Eles jamais sujam as mãos. Não matam ninguém: se limitam a aplaudir o espetáculo.

Seus funcionários, os tecnocratas internacionais, mandam em nossos países: eles não são presidentes, nem ministros, nem foram eleitos em nenhuma eleição, mas decidem o nível dos salários e do gasto público, os investimentos e desinvestimentos, os preços, os impostos, os lucros, os subsídios, a hora do nascer do sol e a frequência das chuvas.

Não cuidam, em troca, dos cárceres, nem das câmaras de tormento, nem dos campos de concentração, nem dos centros de extermínio, embora nesses lugares ocorram as inevitáveis consequências de seus atos.

Os tecnocratas reivindicam o privilégio da irresponsabilidade:


— Somos neutros — dizem eles.
Eduardo Galeano
em 

 O livro dos abraços.

quinta-feira, 28 de maio de 2015

Bob Fernandes: Derrotas na Cunholândia, ou Cunhistão. Mas calma... lá na Cunholândia vale tudo (e de fato, o vale tudo manobrista a favor da direita venceu depois)




Segue vídeo (e sua transcrição textual) com a análise do comentarista político Bob Fernandes sobre a derrota de Eduardo Cunha na terça e suas manobras contra o regimento para novamente aprovar o Financiamento Privado de Campanha e outras "garantias" para si e para a continuidade da corrupção....




Na largada, a Câmara votou Reforma que, ao menos na estreiam nada reformou. Reforma Porcina, a que foi sem nunca ter sido, como a viúva da novela. 

Mas calma, ainda falta mais... e na Cunholândia vale tudo. 

Falta votar o fim da reeleição, eleição unificada a cada 5 anos... e nesta quarta, 17, Cunha cunhou manobra para votar de novo o financiamento empresarial de campanhas. 

Agora não mais no varejão dos candidados, como na proposta derrotada, mas no atacadão, via partidos que repassariam a grana para os seus. 

Na estreia, nada obteve os 308 votos necessários para mudar a Constituição. 

"Distritão", o único sistema com chances de aprovação, foi jogada do PMDB de Temer e do grande derrotado da primeira noite e madrugada, Eduardo Cunha.

Cunha não aceita derrota no que mais defende: incluir na Constituição o financiamento empresarial. Com ele perderia também Gilmar Mendes.

Mendes pediu vistas do processo há um ano, quando o Supremo, já por maioria definitiva, vetava financiamento empresarial.

A primeira batalha Cunha perdeu por vários motivos, alguns evidentes: demasiado apetite e prepotência em mais um ato atrabiliário. 

Perdeu porque atropelou o relator Marcelo Castro (PI), do seu partido, e enterrou propostas negociadas por Castro na Comissão de Reforma.

Perdeu porque começa a ficar claro que, investigado por corrupção no esquema Petrobras, Cunha fará qualquer aliança para salvar o pescoço. 

Reforma tão cobrada, ainda que não se saiba exatamente qual, não pode ser feita porque um homem ambicioso e hábil sonha criar seu reino... a Cunholândia, ou Cunhistão.

Num sistema político gangrenando, Reforma não deveria ser imposta, com desprezo a regimentos, sugestões, debates, e também a erros acumulados.

O jogo não acabou, tem mais. Mas ao menos na estreia não houve avanço concreto.

Como, por exemplo, alguma barreira contra criação de partidecos que mordem dinheiro no fundo partidário e leiloam espaços no horário eleitoral. 

Estranhamente, o que se comemorava ao fim do primeiro round não foi alguma Reforma, mas o ficar tudo como está. Comemorava-se o não ter ficado pior...a manutenção do status quo. 
.
Mas... calma, ainda falta. E, como se sabe, na Cunholândia, ou Cunhistão e seus múltiplos significados, vale tudo.

70% dos deputados da lista da Lava Jato apoiaram emenda do financiamento empresarial de campanha




Dos 23 deputados federais presentes na relação, 16 apoiaram a emenda que constitucionaliza as doações de pessoas jurídicas a partidos políticos, votada ontem (27) na Câmara dos Deputados
Por Redação* da Revista Fórum
Dos 23 deputados federais presentes na lista de investigados da operação Lava Jato, pelo menos 16 apoiaram a emenda que constitucionaliza o financiamento privado de campanhas com doações de pessoas jurídicas aos partidos políticos, votada ontem (27) na Câmara dos Deputados.
Entre os nomes que constam na relação, entregue pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao STF em março, três não participaram da votação – Eduardo da Fonte (PP-PE), Roberto Britto (PP-BA) e Simão Sessim (PP-RJ). Dos outros vinte presentes no plenário, 16 (80%) apoiaram o financiamento empresarial. Entre eles está o presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que, apesar de não ter votado diretamente a proposta por conta de seu cargo, já havia se manifestado publicamente a favor dela. O peemedebista foi também o principal articulador da “repescagem” que a colocou novamente em votação, mesmo com uma matéria semelhante tendo sido rejeitada na noite de terça (26).
Com isso, pode-se dizer que no mínimo 65% dos deputados federais investigados por envolvimento no esquema de corrupção da Petrobras votaram pela aprovação das contribuições de empresas a partidos políticos, e que, contando com Cunha, aproximadamente 70% a apoiaram. Segundo especialistas, a destinação de recursos de pessoas jurídicas a campanhas eleitorais guarda íntima relação com a corrupção, além de potencializar a influência do poder econômico sobre o processo democrático (para ler mais, clique aqui).

Como votaram os deputados presentes da lista da Lava Jato em relação ao financiamento empresarial de campanhas

DEPUTADO                   PARTIDO/UF                VOTO 
Afonso Hamm                         PP-RS                        Não
Aguinaldo Ribeiro                   PP -PB                       Sim
Aníbal Gomes                          PMDB-CE                  Sim
Arthur Lira                               PP-AL                         Sim
Dilceu Sperafico                      PP-PR                         Sim
Eduardo Cunha                       PMDB-RJ                   ***
Jerônimo Goergen                  PP-RS                         Sim
José Mentor                             PT-SP                          Não
José Otávio Germano            PP-RS                         Não
Lázaro Botelho                        PP-TO                         Sim
Luis Carlos Heinze                 PP-RS                          Sim
Luiz Fernando Faria              PP-MG                        Sim
Mário Negromonte Jr.           PP-BA                         Sim
Missionário José Olimpio     PP-SP                          Sim
Nelson Meurer                        PP-SP                          Sim
Renato Molling                       PP-RS                          Sim
Roberto Balestra                    PP-GO                         Sim
Sandes Júnior                         PP-GO                         Sim
Vander Loubet                        PT-MS                         Não
Waldir Maranhão                   PP-MA                        Sim
***Eduardo Cunha não votou por ser presidente da Câmara, mas já se declarou favorável
(Confira aqui a votação completa)
*Pauta sugerida à Fórum no Twitter por @mfwork

O vale tudo do evangélico Eduardo Cunha e o triunfo do "homo ordinarius" em texto de Luciano Martins Costa



PROGRAMA Nº 2615 do observatório da imprensa

REFORMA POLÍTICA

O triunfo do ‘homo ordinarius’

Por Luciano Martins Costa em 27/05/2015 | 1 comentários
Comentário para o programa radiofônico do Observatório, 27/5/2015

Ouça aqui

 Download
A maratona de votações na Câmara dos Deputados, em torno da mudança no sistema eleitoral, resultou exatamente naquilo que se podia esperar: nada. Um olhar sobre o noticiário dos dias anteriores, período em que a imprensa produziu uma fartura de especulações e contribuiu para conturbar o clima em Brasília, mostra que continua mais sábia do que nunca a sentença do Barão de Itararé: “De onde menos se espera, daí é que não sai nada”. Em versão shakespeariana, pode-se dizer que novamente a imprensa fez “muito barulho por nada”.
Depois de insuflar por todos os meios o suposto controle do presidente da Casa, Eduardo Cunha, sobre a maioria dos deputados, a mídia tradicional conclui que ele não tinha cacife para fazer aprovar o sistema Frankenstein abrigado na Proposta de Emenda Constitucional da reforma política. No entanto, o histórico de equívocos da imprensa autoriza a imaginar que aconteceu exatamente o contrário: que Eduardo Cunha obteve o que sempre desejou, ou seja, manter tudo como era antes.
Cunha já foi comparado por articulistas a Maquiavel, mas não chega a tanto. No máximo, ele representa um passo adiante no processo evolutivo do homo ordinarius, espécie que vem povoando o Planalto Central por conta de um sistema eleitoral que favorece o poder doslobbies, transforma celebridades da mídia e do entretenimento em tribunos romanos e corrompe a natureza da representatividade política.
Nas edições de quarta-feira (27/5), os jornais parecem surpreendidos pelo fato de que essa base resolveu pensar por conta própria, se rebelando contra a proposta defendida pelo presidente da Câmara.
“Cunha sofre dupla derrota”, anuncia a manchete do Estado de S. Paulo.
“Câmara rejeita distritão e impõe maior derrota de Cunha na Casa”, diz a Folha de S.Paulo.
Globo também destaca que o presidente da Câmara foi vencido em sua tentativa de alterar o sistema de votação de deputados nos estados, mas dá espaço para suas bravatas: depois de manipular a bancada dos anônimos, aqueles parlamentares sem grande personalidade política que formam o chamado “baixo clero”, Eduardo Cunha estaria passando recados aos dissidentes, ameaçando retaliar.
Quem ganha, quem perde
Se não fosse pela nova demonstração de que Apparício Torelly, o Barão de Itararé, sempre esteve certo em sua convicção de que nada provém de quem menos se espera, seria de bom senso afirmar que o presidente da Câmara do Deputados nada perdeu, porque na verdade nunca pretendeu mudar uma vírgula nas regras que permitiram sua ascensão à liderança da Casa. Mas também se deve levar em consideração que, tendo surgido logo após a inauguração do atual governo como o elemento perturbador do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff, Cunha se revela bem menos poderoso do que fazia supor a imprensa.
Os jornais tiveram pouco tempo para digerir o resultado das votações, que avançaram pela noite, mas alguns articulistas se arriscam a prever que, depois dessa derrota, o presidente da Câmara não será o mesmo.
Embora alguns de seus escudeiros tenham distribuído bravatas e ameaças aos dissidentes, principalmente aos integrantes do PMDB, partido de Cunha, que desobedeceram ao seu comando, sabe-se que a massa dos homens comuns não respeita os derrotados. Para recuperar sua liderança, Cunha terá que administrar no varejo a ampla variedade de interesses dos parlamentares.
O episódio dá oportunidade para um intenso exercício do esporte preferido pelos cronistas de Brasília: a especulação. Munidos de uma ou outra informação de suas fontes privilegiadas, repórteres e colunistas que cobrem o poder central despejam na imprensa seu arsenal de suposições, todos cercados da mais absoluta convicção.
Na véspera, nenhum deles tinha duvidado da capacidade de Eduardo Cunha impor sua vontade à maioria dos deputados. Os telejornais noturnos trouxeram às telas aqueles especialistas em tudo, que se esforçavam por dizer que não haviam dito dias antes o que agora se revela ter sido uma aposta equivocada.
A imprensa registra com destaque a derrota do presidente da Câmara, mas não pode produzir aquele costumeiro quadrinho: “Quem ganha, quem perde”.
Do outro lado da Praça dos Três Poderes, o Executivo apenas acompanhou o embate.
No resto do Brasil, cresce a percepção de que o noticiário político é um jogo entre a imprensa e os partidos.

domingo, 24 de maio de 2015

O Lobão coxinha atacando a Chapeuzinho Vermelho




A divulgação seletiva de escândalos e o abafamento da Operação Zelotes, da lista de Furnas e do Escândalo do HSBC





A divulgação seletiva de escândalos

A mídia dá a impressão de que o único grande escândalo de corrupção do país é o da Petrobrás. Cadê Zelotes? Cadê as contas secretas no HSBC? Cadê o metrô de SP?

texto de

Fonte: Carta Maior

Nos últimos tempos, a sociedade brasileira se defronta com grandes escândalos de corrupção. Para citar alguns: os casos de propinas na Petrobrás [Lava Jato], no Carf [Conselho Administrativo de Recursos Fiscais] do Ministério da Fazenda [Zelotes] e no metrô de SP; os depósitos secretos em contas do Banco HSBC na Suíça etc.

Pelo noticiário, todavia, fica-se com a impressão de que existe somente a Operação Lava Jato. Não bastasse esta seletividade, a notícia é ainda recortada para vincular Dilma, Lula e o PT à gênese da corrupção no Brasil.

É uma cobertura evidentemente anômala, por muitas razões. A começar pelo fato óbvio de que é sabido que o escândalo da Petrobrás é apenas um, dentre outros conhecidos, e que se assemelham no modus operandi: alguns políticos de vários partidos, empresários e funcionários públicos inescrupulosos formam quadrilhas para a prática criminosa.

Sabe-se também que a roubalheira da Petrobrás, que surrupiou cerca de 6 bilhões de reais da empresa, é pelo menos três vezes menor que a sonegação fiscal praticada por empresas num esquema de corrupção que atua sobre o Carf. O prejuízo do erário, segundo se estima provisoriamente na Operação Zelotes, é de 19 bilhões de reais – quase um terço dos cortes orçamentários anunciados pelo governo.

É compreensível o silêncio no noticiário. Afinal, se diz que entre os envolvidos estão o império daquele mega-empresário siderúrgico que ironicamente “ensina” a governos a magia da “eficiência e da produtividade privada” [sic]; estão também empresas de comunicação, bancos, banqueiros, conglomerados econômicos, grandes anunciantes, etc.

Seria difícil ao noticiário deixar de sonegar que alguns donos de jornais, algumas celebridades e um punhado de empresários e banqueiros sejam titulares das 7 mil contas no HSBC da Suíça que receberam depósitos milionários – em muitos casos, sem comprovação da origem legal da dinheirama.

No caso do metrô de SP, embora seja um esquema montado a mais de década e que atinge a casa de bilhões em prejuízos, um noticiário acanhado dá conta de uma apuração apartidária, despolitizada e que não criminaliza agentes políticos, porque joga a culpa em funcionários públicos que "agiam por conta própria”. Fosse o PT o partido no governo em SP durante duas décadas, estaria assegurado o carnaval midiático massacrante.

Embora os implicados na Petrobrás sejam majoritariamente identificados com os demais partidos [só o PP tem mais de 30 envolvidos], o noticiário trata como "petrolão do PT" [sic]. No circo da investigação da Operação Lava Jato, bandidos viram celebridades e ganham fé pública no noticiário das 8 da noite. Nos casos da Zelotes, das contas-fantasmas no HSBC, do metrô de SP, entretanto, não existe circo; porque existe silêncio, quando não a ocultação.

Uma prova prática disso: quem pesquisar no Google notícias sobre estes escândalos perceberá a abundância de registros diários sobre a Petrobrás, porém registros esparsos e em quantidades infinitamente menores dos demais escândalos.

Ante tal anomalia do noticiário, é fundamental que haja pressão pública para que a mídia repercuta com isonomia, imparcialidade e isenção a realidade brasileira – sem recortes e seletividade. A mídia tem exercido este papel danoso à democracia porque lamentavelmente encontra em setores da Polícia Federal, do Ministério Público e do Judiciário atores políticos que instrumentalizam as investigações para, dependendo do caso, criminalizar adversários ou proteger amigos.

Esta "midiatização justiceira" que perigosamente toma conta da arena pública infundindo ódio, se não for revertida a tempo poderá legitimar uma trajetória de regressão jurídica e democrática do país.

Alberto Dines sobre a hipocrisia e alienação da tradiação da Casa Grande de uma sociedade cada vez mais suicida




JORNAL DE DEBATES > BANALIZAÇÃO DA VIOLÊNCIA

Uma sociedade suicida

Por Alberto Dines em 23/05/2015 na edição 851 do Observatório da Imprensa
Reproduzido da Gazeta do Povo (Curitiba, PR) e do Correio Popular (Campinas, SP), 23/5/2015; intertítulo do OI
“Ele foi vítima de vítimas, que são vítimas de vítimas”, desabafou para o jornal carioca O Dia a ex-mulher e mãe dos dois filhos do cardiologista carioca assassinado quando pedalava no início da noite no entorno da aprazível Lagoa Rodrigo de Freitas. O suposto assassino tem 16 anos e já cometeu quinze delitos, o primeiro aos 12.
Instantaneamente, baixaram das nuvens bruxas e demônios transformando o horror, o luto e a solidariedade em indignação, sede de vingança, rancor difuso e generalizado contra tudo que pareça provocar a violência. Reacendeu-se o debate sobre o rebaixamento da maioridade penal engrossando as legiões dos que clamam por imediatas providências e soluções definitivas contra o crime e a impunidade.
O arrasador depoimento do pensador espanhol Manuel Castells publicado na Folha de S.Pauloum dia antes da barbaridade abalou ainda mais a imagem que inventamos a nosso respeito como consolo para o fracasso coletivo: “A sociedade brasileira não é simpática, é uma sociedade que se mata”.
É possível que o sociólogo pretendesse dizer algo distinto do publicado, porém é lícito acreditar que um observador tão atilado, sensível e articulado expressasse uma dolorosa e inequívoca constatação: o país está se matando. Literalmente.
Uns aos outros. Somos todos agentes e sujeitos da mesma violência, assustadores e assustados, governantes e governados, progressistas e reacionários, crentes e descrentes, militares e magistrados, policiais e policiados, professores e aprendizes – todos, sem exceção, se bicam, se dilaceram, se esfaqueiam. Todos sangram. Enquanto rios secam, o sangue escorre copioso nas calçadas e ruas.
No limite
Importado de outras paragens pelas moderníssimas redes sociais, o pragmatismo das bestas e dos primitivos disseminou-se velozmente e está demonstrando que uma faca de cozinha, baratíssima, fácil de esconder e utilizar, pode ser tão mortífera quanto uma garrucha. Pela universalização do uso, armas brancas convertem-se com relativa facilidade em armas de destruição em massa.
A sociedade que não é simpática, como nos qualifica Castells, é uma sociedade enfezada, agressiva, incapaz de percepções mais sutis. Matar-se é uma forma verbal complicada, pode sugerir intensidade (“fulano está se matando de trabalho”) ou uma ação deliberada para provocar a própria extinção.
Desnorteada como está, desarvorada, despassarada, sobretudo inexperiente e impaciente, a sociedade examinada por Castells é uma sociedade potencialmente suicida. Diante da tempestade perfeita onde as angústias materiais associam-se a uma antiga ausência de proteção, onde a inexistência de perspectivas de mudança alia-se ao incrível desgaste dos modelos, discursos e referências, incapazes de expressar o desespero, as vítimas das vítimas das vítimas das vítimas – nós – lentamente nos encaminhamos para a beira do abismo.
Mais perto, talvez seja possível descortinar as perdas e retroceder. Estamos no limite.

sexta-feira, 22 de maio de 2015

Luciano Martins Costa comenta o "mico" da "Coluna Aécio"





"Entre o fim de abril e esta última semana de maio, a expectativa do grupo de manifestantes, estimulada por discursos inflamados do senador que perdeu a eleição presidencial em 2014, não foi justificada pelos fatos. O descompasso entre os trabalhos políticos e os dias de marcha acaba por produzir a ruptura entre os doze aloprados que imaginam reverter a decisão das urnas e os oportunistas que os apadrinharam."

O ‘mico’ da ‘coluna Aécio’


Texto de Luciano Martins Costa, extraído do Observatório da Imprensa


A Folha de S. Paulo anuncia em nota na sua primeira página, na edição de sexta-feira (22/5): “Grupos anti-Dilma dizem que PSDB e Aécio são traidores”. O Estado de S. Paulo, em reportagem interna sobre o mesmo tema, informa: “Grupos se dizem traídos por tucanos”.

A imagem que ilustra o texto do Estado mostra doze – isso, exatamente uma dúzia – de manifestantes que caminham pela Rodovia Anhanguera, com destino a Brasília, onde pretendem fazer sua pregação em favor do impeachment da presidente da República. Quando saíram de São Paulo, no fim de abril, os integrantes da marcha foram estimulados por líderes do PSDB, que imaginavam uma espécie de “coluna Prestes” invertida, a recolher, pelo caminho, milhares de cidadãos descontentes com o governo, numa chegada triunfal à rampa do Planalto. Mas, como no poema de Hesíodo, as relações entre os homens e os deuses devem se submeter ao crivo da verdade, e esta nem sempre se manifesta como desejam os humanos.

Entre o fim de abril e esta última semana de maio, a expectativa do grupo de manifestantes, estimulada por discursos inflamados do senador que perdeu a eleição presidencial em 2014, não foi justificada pelos fatos. O descompasso entre os trabalhos políticos e os dias de marcha acaba por produzir a ruptura entre os doze aloprados que imaginam reverter a decisão das urnas e os oportunistas que os apadrinharam.

Por sugestão do jurista Miguel Reale Jr., convocado a emitir parecer sobre a proposta do impeachment, os líderes do PSDB acharam melhor ingressar com processo contra a presidente Dilma Rouseff na Justiça comum, talvez confiantes na ação dos julgadores que o poeta grego chama de “comedores de presentes”. Mas o Judiciário, já embaraçado com a interferência do Congresso em suas atribuições, não dá sinais de que irá acolher tal petição.

Representantes dos grupos que pedem a interrupção do mandato da presidente da República teriam ouvido na semana passada, na capital federal, promessas de parlamentares do PSDB e de outros partidos de oposição de que entrariam com o pedido formal de impeachment assim que os marchadores alcançassem a Praça dos Três Poderes. Desde quarta-feira (20/5), a uma semana da chegada da marcha a Brasília, prevista para o dia 27, a página do Movimento Brasil Livre, um dos grupos que organizam o protesto, exibe um quadro dizendo que o senador Aécio Neves traiu a causa (ver aqui).

Ignorância política

Segundo o Estado de S.Paulo, líderes do PSDB avaliam, reservadamente, rever a estratégia de apoiar explicitamente a marcha, quebrando a promessa de dar um caráter apoteótico à sua chegada a Brasília.

O ex-deputado federal Francisco Graziano, assessor do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, disse à Folha de S. Paulo que entende a frustração dos que querem o impeachment, mas considera que “atacar Aécio, FHC ou o PSDB mostra ignorância política”. De repente, os tucanos descobrem que meteram a mão em cumbuca.

Restará aos protestadores, certamente, o apoio do deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), do senador Ronaldo Caiado (DEM-GO) e talvez a presença do deputado Paulo Pereira da Silva (SDD-SP), cujas biografias não justificam os cuidados que precisam ter os líderes do PSDB.

O principal partido de oposição embarcou na aventura dos golpistas pela mão do senador Aécio Neves, que foi demovido do plano de impeachment pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso na semana passada. Agora, precisa de um discurso consistente para evitar o constrangimento de se haver associado aos aloprados que seguem para Brasília.

Não se pode prever o que irá ocorrer na capital federal na quarta-feira (27/5), mas certamente não será a grande festa cívica que esperavam os organizadores do protesto. Nesse período, o núcleo principal das propostas de ajuste econômico já terá sido aprovado, ou uma nova agenda estará acertada entre o Executivo e o Congresso Nacional.

Analistas acreditados pela imprensa já registram uma redução das tensões entre os poderes, que vêm sendo estimuladas pela mídia desde a posse da presidente Dilma Rousseff em segundo mandato.

A decisão da presidente, de elevar a alíquota da Contribuição Social sobre o lucro líquido dos bancos, tende a reconciliá-la com parte de seu eleitorado, pela simbologia da medida, combinada com a manutenção da carência de um mês para pagamento de abono salarial, que beneficia os trabalhadores.

Tudo de que os presidentes da Câmara e do Senado, Eduardo Cunha e Renan Calheiros, não precisam, neste momento, é barulho de manifestantes. O “mico” do impeachment fica com o PSDB, que vai ter que explicar, daqui para a frente, se considera que eleição é para valer ou se, nas próximas disputas, caso venham a ser derrotados novamente, os tucanos irão outra vez mobilizar a “coluna Aécio”.

O Shopping de Eduardo Cunha a ser montado com o dinheiro público


O PARTICULAR SHOPPING DOS DEPUTADOS

Calos Antonio Fragoso Guimarães


  Por meio de uma manobra hábil, digna dos que tem experiência em extorquir dinheiro público sorrateiramente, o evangélico nada espiritualizado Eduardo Cunha (PMDB) conseguiu aprovar a primeira etapa de um projeto para  a construção de um complexo de edifícios anexos à câmara e que inclui, entre outras regalias, a construção de um shopping center privativo para os deputados, e tudo isso em tempos de ajuste fiscal e aperto financeiro.
 Avaliado em R$ 1 bilhão (podendo, é claro, sair bem mais caro na prática), o projeto do novo complexo parte de uma reforma no anexo IV, ampliando salas para uso dos deputados, até a construção de três grandes prédios, incluindo um que abrigaria todo um moderno shopping.
  Mas claro, neste episódio, as mesmas elites que elegeram grande parte dos deputados que, por sua vez, elegeram Cunha como presidente da casa, são a favor do projeto e que frequentam Shoppings ou os tem quase que inteiramente em seus prédios de apartamentos bem equipados ou suas casas em condomínios estilo Alphavilles dificilmente irão se dar ao trabalho de fazer um panelaço contra essa medida do presidente da Câmara, tão exclusivista, neoliberal, explorador do erário público e anti-povo quanto eles mesmos, não é?

terça-feira, 19 de maio de 2015

Luciano Martins Costa sobre o partidarismo, a violência e a virulência da mídia estimulando radicalismos acéfalos no campo virtual






  Em artigo e programa e em programa radiofônico do Observatório da Imprensa, o jornalista e escritor Luciano Martins Costa afirma que "o posicionamento partidário da mídia tradicional estimula radicalismos políticos no campo virtual, que se desdobram em outras formas de intolerância"; para ele, o incidente com Alexandre Padilha "é apenas uma das muitas manifestações diárias desse fenômeno, que mostra as classes médias urbanas expondo mais agressivamente seus preconceitos e sua visão de mundo reacionária"


PROGRAMA Nº 2608 do Observatório da imprensa

INTOLERÂNCIA NA INTERNET

A virulência na rede digital

Por Luciano Martins Costa em 18/05/2015 | 3 comentários
Comentário para o programa radiofônico do Observatório, 18/5/2015

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O cruzamento de algumas leituras do fim de semana e de segunda-feira (18/5) destaca algumas vozes que refletem certa preocupação com os níveis de hostilidade presentes nas relações sociais digitais.
Estado de S. Paulo, citando a organização de defesa de direitos humanos Safernet, informa que em 2014 foram registradas 189,2 mil denúncias de crimes e abusos na rede, segundo levantamento feito com a participação do Ministério Público e da Polícia Federal. Em entrevista à Folha de S. Paulo, o sociólogo Manuel Castells afirma que a internet está expressando um perfil naturalmente agressivo dos brasileiros.
Também pode-se colocar na mesma conta o episódio de que foi vítima o secretário municipal de Saúde de São Paulo e ex-ministro Alexandre Padilha, ocorrido na sexta-feira (15/5). Padilha almoçava com amigos de infância quando um cliente se levantou e, batendo com o garfo numa taça, pediu atenção aos presentes para avisar que ali estava o homem que havia criado o programa Mais Médicos cuja conta, segundo ele, cairia nas cabeças dos brasileiros. Padilha achou por bem não polemizar na ocasião, e depois usou as redes sociais para comentar o que chamou de “inaceitáveis instantes de intolerância”.
Pode-se encontrar algumas convergências e certa diversidade nas três citações da imprensa. A primeira, que se refere à preocupação de empresas e entidades civis com o aumento da agressividade nas redes sociais, aponta para um fenômeno mundial que tem sua versão brasileira associada a questões comuns como o preconceito de raça e de origem, o posicionamento político ou a preferência em termos futebolísticos. Especialistas citados na reportagem afirmam que tem havido uma redução da virulência, com outros sinais de amadurecimento do comportamento virtual.
Já Manuel Castells, que dos anos 2000 a 2006 esteve no topo das citações entre intelectuais que estudam a comunicação, com sua interpretação marxista da vida digital, faz uma projeção de teses que contrastam com a ideia equivocada do “brasileiro cordial”. A frase que a Folha escolheu para dar o título à sua entrevista reduz bastante o alcance de suas declarações: “A imagem mítica do brasileiro simpático existe só no samba”.
Mas a visão do sociólogo sobre o Brasil atual precisa ser discutida.
A fonte da intolerância
A rigor, o que Castells diz na entrevista é uma repetição de certa obviedade que vem afirmando em suas palestras: o fato de que as pessoas refletem na internet a educação que receberam ou desenvolveram. Se alguém é intolerante na vida social, tende a repetir esse comportamento quando acessa as redes digitais.
Ele acredita que a internet apenas amplifica os conflitos entre os brasileiros, que, na sua opinião, sempre foram agressivos: a internet funciona como um espelho, pondera. “A sociedade brasileira não é simpática – é uma sociedade que se mata”, afirmou, observando que a internet amplia os espaços para a expressão de sentimentos que já estão presentes na vida comum. Portanto, se nas relações virtuais “se articulam formas de violência, racismo, sexismo, é porque isso existe na sociedade”, acrescentou.
Mas Castells não acredita que a rivalidade política esteja mais intensa agora, no Brasil, do que foi antes. É nesse ponto que o sociólogo espanhol parece se distanciar da realidade brasileira: a observação diária autoriza a afirmar que o posicionamento partidário da mídia tradicional estimula radicalismos políticos no campo virtual, que se desdobram em outras formas de intolerância. O incidente que constrangeu o ex-ministro da Saúde é apenas uma das muitas manifestações diárias desse fenômeno, que mostra as classes médias urbanas expondo mais agressivamente seus preconceitos e sua visão de mundo reacionária.
Juntando-se aos dois textos o caso do ex-ministro, fica evidente que a sensação de liberdade do suposto anonimato – ou a possibilidade de uma ação incorpórea – nas redes digitais estimula a manifestação da intolerância que já existia nas camadas mais privilegiadas da sociedade brasileira. E, ao contrário do que diz Manuel Castells, essa rivalidade ideológica, estimulada e amplificada pela imprensa, oferece uma justificativa moral para o comportamento de pessoas como o cidadão que manifestou em voz alta, num restaurante, sua ignorância sobre o programa Mais Médicos.
Ao contrário da crença de Manuel Castells, o Brasil é um país conflagrado politicamente. Mas não se pode culpar a internet ou as redes sociais pela virulência que nasce nas redações.
Colunistas pitbulls e articulistas tendenciosos armam o palanque dos analfabetos políticos que esgrimem suas verdades por aí.