segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Quem lucra com o aquecimento global


Foto do Oceano Ártico na semana passada. Em branco mais forte, área congelada. Na linha pontilhada, a extensão média do gelo, entre 1970 e 2010
Enquanto centros de pesquisa alarmam-se com derretimento do Ártico, empresas como Shell avançam planos para extração de petróleo de altíssimo risco ambiental
Por Daniela Frabasile, no Outras Palavras
Nessa semana, o National Snow and Ice Data Center, uma agência governamental norte-americana, confirmou, com a colaboração da NASA, que a extensão de gelo no Oceano Ártico é a menor já registrada nesta época do ano – faltando três semanas para o período de maior aquecimento das áreas próximas ao Polo Norte.
Desde o final dos anos 1970, satélites monitoram a porcentagem de gelo que cobre o Ártico, e verificaram uma tendência no padrão de congelamento. Durante o inverno, o mar congela, atingindo o pico em março; no verão, a extensão de gelo diminui, sendo o mínimo normalmente atingido em meados de setembro.
Algumas previsões baseadas em modelos de computador já sugeriram que, em algum momento, não haverá gelo no Ártico durante o verão. Isso ocorrerá, provavelmente, já em meados desse século. Segundo Michael E. Mann, climatologista da Universidade do Estado da Pennsilvania, “esse é um exemplo de como a incerteza não é nossa amiga, no que diz respeito a risco de mudanças climáticas”.
Uma das consequências mais temidas é a elevação do nível dos oceanos. O simples  derretimento do gelo não é suficiente pra provocar o fenômeno,  já que o gelo que flutua também ocupa espaço no mar. A questão é que o gelo reflete a luz solar, enquanto a água do mar a absorve, o que causa um aumento da temperatura da água, capaz pode influenciar o derretimento do gelo que está sobre a terra. Este, sim, pode elevar o nível do mar.
Mas enquanto alguns se preocupam com as consequências ecológicas do degelo, outros brincam com fogo. Matéria do New York Times revela que empresários e consultores já falam dos supostos benefícios econômicos do derretimento — como abertura de novas rotas marítimas e exploração de recursos naturais.
A Shell pretende iniciar perfurações no Oceano Ártico em setembro. A empresa quer aproveitar o fim do verão para realizar as operações. Avalia que, se começar agora, pode deixar o local em outubro, antes do aumento do gelo marinho.
Importantes grupos ambientalistas alertam que essas operações causariam “danos irreparáveis” à região. O Natural Resources Defense Council (NRDC – organização ambientalista) pediu que Washington proibisse as perfurações, afirmando que a Shell não seria capaz de impedir derramamentos de petróleo. A Shell admitiu que não teria recursos para limpar eventuais desastres ambientais.
Porém os grupos que apoiam a empresa afirmam que o projeto de exploração forneceria aos Estados Unidos recursos energéticos por mais de uma década, e reduziria a dependência do país em relação ao petróleo estrangeiro. Segundo o NRDC, a busca de petróleo no Oceano Ártico apresenta riscos ainda maiores de derramemento, em virtude da constante movimentação do gelo.

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