domingo, 20 de novembro de 2016

Do site jurídico Justificando: Meu mais profundo respeito aos dignos policiais que se juntaram aos manifestantes, por Roberto Tardelli, procurador de Justiça do MPSP Aposentado.

Meu mais profundo respeito aos policiais que se juntaram aos manifestantes

Foto: Reprodução/ Facebook – Julio Trindade
"Eu tenho orgulho desses soldados, eu tenho orgulho republicano nessa deserção, queria poder abraçá-los e pensar que no Rio de Janeiro, centenas serão os advogados que se levantarão para defendê-los. Centenas de nós, milhares de nós, milhões de brasileiros que agradecem a heroica deserção."
  Justificando. - Eles baixaram as armas, guardaram a baioneta e, talvez pela primeira vez na vida, trocaram as armas pela razão. Olharam os manifestantes e não tiveram o despudor de seus comandantes de atacar senhores e senhoras, funcionários públicos, enfermeiros, professores, médicos, ascensoristas, escriturários, aposentados, gente da maior periculosidade. Gente que torce para o Flamengo e para a Mangueira, gente que deu a vida e o sangue para o serviço público, que não teve hora extra ou Fundo de Garantia, que nunca teve quadro de carreira, que passou a vida entre paredes sem cor e carimbos envelhecidos, gente que só tinha seu nome lembrado no Diário Oficial.
Os soldados, republicanos e democratas, ainda que tardio, não conseguiram cumprir as ordens que lhe chegavam aos berros nos ouvidos. Let the mother fucker burn gritava o rock para o soldado americano no Iraque, na cena mais tocante do documentário de Michael Moore sobre a guerra do Iraque. O mundo gira na cabeça do soldado que pode investir contra aquele que, na verdade, também é seu vizinho, seu parente, sua amiga, sua professora ou o professor de sua filha, de seu filho. O capitão, tenente, major, coronel, seja lá quem o tenha mandado bater, atirar com balas de borracha, bombas de efeito moral, ele que o fizesse.
Se a ordem é manifestamente ilegal, amigo, você não está obrigado a cumprir. Se à tua frente estão senhores pacatos e barrigudos, apavorados porque um governo elitista e fraudulento lhes rouba o último dinheiro que tem, se à tua frente existe gente honesta pedindo que lhe devolvam o que será roubado, nada existe que te obrigue a atacá-los.
Chaplin, gênio entre os gênios, em seu momento mais inspirado imortalizou:
Soldados! Não vos entregueis a esses brutais… que vos desprezam… que vos escravizam… que arregimentam as vossas vidas… que ditam os vossos atos, as vossas idéias e os vossos sentimentos! Que vos fazem marchar no mesmo passo, que vos submetem a uma alimentação regrada, que vos tratam como gado humano e que vos utilizam como bucha de canhão! Não sois máquina! Homens é que sois! E com o amor da humanidade em vossas almas! Não odieis! Só odeiam os que não se fazem amar… os que não se fazem amar e os inumanos! Soldados! Não batalheis pela escravidão! Lutai pela liberdade! No décimo sétimo capítulo de São Lucas está escrito que o Reino de Deus está dentro do homem – não de um só homem ou grupo de homens, ms dos homens todos! Está em vós! Vós, o povo, tendes o poder – o poder de criar máquinas. O poder de criar felicidade! Vós, o povo, tendes o poder de tornar esta vida livre e bela… de faze-la uma aventura maravilhosa. Portanto – em nome da democracia – usemos desse poder, unamo-nos todos nós. Lutemos por um mundo novo… um mundo bom que a todos assegure o ensejo de trabalho, que dê futuro à mocidade e segurança à velhice.
Eu tenho orgulho desses soldados, eu tenho orgulho republicano nessa deserção, queria poder abraçá-los e pensar que no Rio de Janeiro, centenas serão os advogados que se levantarão para defendê-los. Centenas de nós, milhares de nós, milhões de brasileiros que agradecem a heroica deserção.
Os soldados republicanos que marcharam para a República e deixaram os passos da brutalidade certamente não seria aqueles idiotizados pela mídia que invadiram o Congresso Nacional, pedindo intervenção militar. Intervenção Militar e gritando o nome do Super-Juiz, certamente porque a intervenção militar e o Super-Juiz muito possuem em comum.
Os intervencionistas estão saudosos do pau de arara, dos choques, dos Ustras que nos sufocaram. Não são desonestos, não são canalhas, não pessoas de mau-caráter, não. São apenas pessoas comuns idiotizadas e fanatizadas pela violência estúpida.
A deserção corajosa e republicana nos dá esperança de que algo está se movendo, de que algo está acontecendo, de que alguma semente germinou, tão importante que seu nome não foi divulgado, afinal, não é um bandido comum, de foto a ser estampada no Jornal Nacional.
Os policiais que se recusaram a cumprir a ordem foram, antes de tudo, grandes pessoas. A eles, meu mais absoluto respeito.
Roberto Tardelli é Advogado Sócio da Banca Tardelli, Giacon e Conway. Procurador de Justiça do MPSP Aposentado.

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