quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Brasil retoma visão anacrônica de neoliberalismo, alerta Bresser-Pereira



Professor avalia que crise política está associada à perda da ideia de nação pelas elites e declara: ‘Desenvolvimentismo é nacionalismo econômico’
 


 
Jornal GGN A crise política desencadeada em várias partes do mundo hoje, e que se aprofundou em 2016, é um sinal de insatisfação, cada vez maior, de grande parcela da população, “sobretudo branca e não-educada”, e que estaria se sentindo prejudicada pelo neoliberalismo há pelo menos três décadas. 
 
A avaliação é do professor Luiz Carlos Bresser-Pereira que, em entrevista exclusiva para o programa Na sala de visitas com Luis Nassif, avaliou as consequências da crise política sobre a economia no Brasil e a insistência de conceitos neoliberais no país, enquanto até mesmo os países centrais já deixaram de lado “a crença cega no mercado”.
 
Bresser-Pereira é da ala dos economistas desenvolvimentistas, compreendendo o desenvolvimentismo como sendo “nacionalismo econômico e intervenção moderada do Estado” no mercado. Para os setores não competitivos da microeconomia (formada por empresas de infraestrutura e de base) o professor destaca que o Estado deve atuar garantindo os preços macroeconômicos, para evitar guerras de preços e, ao mesmo tempo, precisa dar conta de um sistema educacional eficaz, desenvolvimento tecnológico e planejamento dos setores mais competitivos da economia. 
 
Essa visão de Estado existiu entre os países capitalistas centrais até os anos 1980, quando o neoliberalismo ascendeu em todo o mundo, alcançando as nações menos desenvolvidas, como o Brasil, de Fernando Henrique Cardoso (1995-2003). Com a quebra de Wall Street, em 2008, e propagação da crise em todo o mundo, os governos retomaram a linha protecionista e reforçaram o papel do Estado sobre o mercado. 
 
Estados Unidos e Inglaterra, por exemplo, apesar da ascensão de políticos mais à direita, aumentaram suas ações protecionistas nos últimos anos. Já o Brasil, desde o golpe que afastou a presidente Dilma Rousseff, vem tomando um rumo alternativo no mundo, mantendo uma visão anacrônica do neoliberalismo dos anos 1990.
 
Bresser completa que, de maneira geral, a crise política e, portanto, da globalização, ronda o mundo, mas não da maneira como ocorre no Brasil. E, essa crise, pode ser associada a perda da ideia de nação pelas elites. 
 
“Hoje temos a impressão de que ser capitalista é ser burguês, é ser liberal. Não é verdade, o capitalismo nasceu desenvolvimentista”, lembrando, por exemplo, do New Deal, nome dado a uma série de tratados implementados para combater os efeitos da crise de 1929, durante o governo do Presidente Franklin Delano Roosevelt nos Estados Unidos. As medidas, anticíclicas, foram tomadas para recuperar a economia a partir da forte intervenção do estado fazendo investimentos na indústria e em grandes obras.
 
“O que a Escola da Regulação, uma escola francesa de economia, chamou de modelo Fordista, porque foi um acordo político envolvendo empresários, trabalhadores, classe média e voltado ao crescimento da economia e uma moderação da atuação do Estado na economia, e funcionou muito bem”. 
 
O programa completo Na sala de visitas com Luis Nassif, você acompanha aqui no GGN, a partir das 18h, com os principais trechos desta entrevista. Assinantes GGN já podem acompanhar a participação completa do professor Bresser-Pereira na revista. Clique aqui

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