segunda-feira, 28 de julho de 2025

Da humilhação na política externa. Reflexão do ex primeiro-ministro português José Sócrates

 

    "O tarifaço americano para o Brasil é também uma técnica de humilhação. Nenhum interesse comercial, nenhuma razão económica, só a vontade de exibir o poder. Um poder que não quer atingir o corpo, mas que se dirige à face do oponente."

COLUNISTAS ICL

Da humilhação na política externa



A humilhação é radical e devastadora – ela toca o mais íntimo das pessoas e dos povos

A humilhação está por todo o lado. Nas televisões, nos jornais, nas redes sociais. Especialmente nestas, das quais não sabemos ainda como nos podemos defender. A nova violência institucional é a humilhação, como podemos ver sempre que uma informação sobre um processo judicial salta para os jornais sem que o visado tenha a mínima possibilidade de se defender. A nova moda da sociedade da humilhação é a do insulto gratuito e da acusação não provada. E, no entanto, mesmo nos momentos de maior convulsão social, o exercício diplomático sempre pareceu apartado desta doença fútil da humilhação. Até Trump ganhar as eleições. A partir dai a humilhação parece fazer parte das ferramentas da política externa norte-americana.

A humilhação é uma terrível fonte de violência humana. O seu irmão gémeo é o ressentimento que cresce em silêncio, que se alimenta secretamente de amargura e de sofrimento mental. Quando explode ouve-se longe. O tratado de Versailles de 1918 gerou a humilhação alemã, depois o ressentimento alemão e finalmente a violência alemã. A humilhação palestina parece um problema insolúvel para o mundo e principalmente para a segurança israelita. Em 1947 havia palestinos na Palestina, agora há palestinos na Palestina, amanhã haverá palestinos na Palestina. A miserável matança de Gaza é uma humilhação para os palestinos – que o Ocidente pagará caro no futuro.

O tarifaço americano para o Brasil é também uma técnica de humilhação. Nenhum interesse comercial, nenhuma razão económica, só a vontade de exibir o poder. Um poder que não quer atingir o corpo, mas que se dirige à face do oponente. Querer alterar uma decisão judicial através de ameaças de tarifas é um gesto desprezível que exige a rendição da soberania de um à soberania do outro. Por outro lado, as tarifas impostas à União Europeia são outra forma de humilhação negocial: o ocidente abandona a ideologia do comércio livre e passa a resolver administrativamente os déficits comerciais entre si. Aquela imagem da pobre da presidente da Comissão apertando a mão do presidente americano e aceitando o acordo dos 15% de tarifas é uma vergonha para a Europa. Nada disto é justo e nada disto é razoável. Mas este acordo diz tudo sobre a Europa dos dias de hoje: a submissão voluntária aos caprichos imperiais. Ninguém já nos leva a sério – nem os próprios americanos que detestam espíritos servis.

Mas é preciso dizer uma coisa sobre a humilhação: não há humilhação sem humilhados e só há humilhados quando estes se calam. A intenção da humilhação, a sua vitória, o seu verdadeiro sucesso é obter o silêncio conformado do outro. Um leve pendor da face para baixo é necessário – só então, na mudez, veremos o humilhado. O presidente norte-americano humilhou a Europa, mas não humilhou o Brasil. A humilhação do tarifaço toca no reconhecimento e na dignidade de um povo e o Brasil vai sair bem desta disputa. Trump e a oposição brasileira cometeram um erro de cálculo

Seja como for, ganhe quem ganhar, deixem-me dizê-lo da forma mais enfática que consigo: a humilhação dos povos é uma promessa de caos e de destruição. A diplomacia e a política externa sempre foram escolas de boas maneiras porque sabem que nada é pior que a humilhação do adversário. Nas relações de força, a magnanimidade sempre foi a caraterística dos fortes e a mesquinhez atributo dos fracos. A humilhação é radical e devastadora – ela toca o mais íntimo das pessoas e dos povos. Não se ganha nada com ela, a não ser um inimigo para a vida. A história da humilhação na política externa nunca trouxe nada de bom ao mundo – só violência. Por agora estamos assim: a Europa aceitou a humilhação, o Brasil enfrentou-a. Nunca me senti tão próximo deste país como agora.

 

Patriotismo, razão e emoção, por Francisco Celso Calmon

  Se não houver união dos poderes, dos empresários e trabalhadores, e a sociedade organizada não sair às ruas, o intento bolsonarista de sabujísmo aos steites pode ser fortificado.


Foto: Reprodução

Patriotismo, razão e emoção

por Francisco Celso Calmon, no Jornal GGN

É estranha essa LEGISLAÇÃO CONGRESSUAL que permite uma licença de um deputado federal para viver em outro país atacando o Estado brasileiro.

 É ético? É legítimo? Eleito pelo sufrágio universal da soberania popular, vai para o exterior para atentar contra a soberania nacional, é muito esdrúxulo, não?

A PF cochilou, Marcos do Val escafedeu-se. A facilidade com que os patriotários fogem está desmoralizando o sistema judicial.

E os capixabas vão aprender a votar e não eleger mais fascistas paranoicos como representante?

As figuras da extrema-direita que choram junto com Bolsonaro pela tornozeleira eletrônica e sentem dores de cotovelo pelo alucinado Eduardo, eram as mesmas que comemoravam o golpe à Dilma e as perdas na família de Lula enquanto estava preso.

 Se não houver união dos poderes, dos empresários e trabalhadores, e a sociedade organizada não sair às ruas, o intento bolsonarista de sabujísmo aos steites pode ser fortificado.

É mister tirarmos lições desse quadro conjuntural, exemplos: confiar nos steites não dá mais; depender de tecnologias sem outros opções é risco que não pode continuar a ser subestimado; conviver com adversários ideológicos sem anteparo, como se fossem companheiros, é ingenuidade irresponsável; é urgente investir no trabalho da base da sociedade para renovar democraticamente esse Legislativo que atua contra o povo.

 A famiglia Bolsonaro opera contra o Brasil.  Ela será a culpada por tudo que os Estados Unidos fizerem contra o nosso país.

 O meliante Bolsonaro afirmou que doravante só segue a lei de Deus, MAS SE NUNCA SEGUIU, sempre prevaricou perante as leis terrenas e os mandamentos da bíblia, na qual encontramos: prevaricar significa infringir a lei de Deus, desviar-se do caminho reto, abandonar o dever e desobedecer aos mandamentos divinos.

 É um termo que abrange a ideia de faltar ao cumprimento da justiça, agir com desonestidade e abandonar os princípios morais estabelecidos por Deus.

Quem furta, quem açula a violência e assassinatos, e dá sinais de pedofilia, misoginia, racismo, ofende as leis terrenas e celestiais.

Bolsonaro como Trump e Netanyahu, são encarnações do demo, são filhos da besta-fera

A guerra dos EUA não é com o governo, é contra o Estado democrático de direito, um esquema sujo e golpista movimentado pela famiglia e pela extrema-direita. E deverá vir novas medidas de agressão às instituições do estado.

 Lula, como comandante em chefe das Forças Armadas, deveria convocar os comandantes para falar sobre a guerra do Trump e ouvir as opiniões, antes que conspiradores agitem por lá.

Para a água chegar a ferver, ela precisa passar pelo processo de ebulição, onde a temperatura do líquido atinge o seu ponto de transformação em vapor (100°C ao nível do mar).

Bolsonaro para chegar à prisão tem que passar pela ebulição, ou seja: de um estado de grande agitação, excitação ou fervor, seja em relação a emoções, ideias ou eventos. É uma metáfora para um estado de efervescência, onde algo está prestes a explodir ou tomar proporções maiores.

O ministro Alexandre de Moraes está como piloto dessa ebulição para decretar a prisão, que ao meu sentir já passou do ponto. 

Este é o cenário adequado para Lula inaugurar as caravanas patrióticas em defesa da soberania da nação brasileira e do Estado democrático de direito, intensificando as visitas aos estados.

 É o momento certo e necessário para as centrais sindicais, os movimentos sociais, os partidos democratas e patrióticos, desfraldarem a bandeira contra o imperialismo estadunidense e na defesa uníssona da soberania brasileira

Há meses estávamos preocupados com a comunicação do governo com o povo, agora, por mais que ainda a comunicação seja um tanto o quanto voltada à bolha militante, vemos cada vez mais a aproximação do coração da pátria com o povo.

O governo tem a chance de ouro de redefinir o senso comum do que é ser patriota, após quatro anos de falso patriotismo do bolsonarismo.

Esta luta é nossa! Lula precisa de todos e todas. O repúdio ao imperialismo e ao bolsonarismo deve ser o eixo a nortear os movimentos e partidos democratas e patriotas.

Francisco Celso Calmon, Analista de TI, administrador, advogado, autor dos livros Sequestro Moral – E o PT com isso?, Combates Pela Democracia, 60 anos do golpe: gerações em luta, Memórias e fantasias de um combatente; coautor em Resistência ao Golpe de 2016 e em Uma Sentença Anunciada – o Processo Lula. Coordenador do canal Pororoca e um dos organizadores da RBMVJ.

O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para dicasdepautaggn@gmail.com. O artigo será publicado se atender aos critérios do Jornal GGN.

Brasil sob Lula desafia tendência autoritária global (chefiada por Trump) e avança na defesa da democracia, revela estudo internacional

 

Relatório V-Dem 2025 revela que o país interrompeu processo de autocratização e é destaque mundial por fortalecer sua democracia liberal


Do Jornal GGN:


Brasil sob Lula desafia tendência autoritária global e avança na democracia, revela estudo internacional

Ricardo Stuckert


Enquanto potências globais escorregam rumo ao autoritarismo, o Brasil surpreende o mundo ao emergir como uma exceção democrática. Sob o terceiro mandato do presidente Lula (PT), o país deu um passo firme no sentido oposto ao da maioria das nações, fortalecendo a democracia liberal e evitando o colapso institucional, segundo o Relatório V-Dem 2025, produzido pela Universidade de Gotemburgo, na Suécia.

A pesquisa, considerada a mais abrangente do mundo sobre regimes políticos, contabiliza atualmente 88 países democráticos e 91 autocráticos. Pela primeira vez em mais de cinco décadas, mais pessoas vivem sob regimes autoritários. Ainda assim, o Brasil foi na contramão: conseguiu reverter parte da deterioração institucional vivida entre 2016 e 2022.

Apesar dos avanços, o relatório mostra que o Brasil ainda sente os efeitos da autocratização iniciada com o impeachment de Dilma Rousseff, em 2016, e agravada durante a gestão de Jair Bolsonaro (PL). O país ocupa a 29ª posição global, com nota 0,71 (numa escala em que 1 representa democracia plena). A liderança mundial é da Dinamarca, com 0,88, enquanto o Chile, com 0,79, é o país mais democrático da América Latina. Já os Estados Unidos registraram queda, figurando na 25ª posição, com 0,75.

O Brasil enfrentou uma forte crise da democracia, mas conseguiu recuperar e não evoluir para um regime autoritário”, afirmou Tiago Fernandes, professor do Instituto Universitário de Lisboa (Iscte) e diretor do Centro Regional V-Dem Europa do Sul. As declarações estão na reportagem de Jair Rattner, publicada pelo portal Público.O Brasil foi tema de quatro artigos científicos incluídos no relatório, sinal da relevância internacional do caso. O levantamento analisa mais de 600 indicadores e conta com a colaboração de 4.200 acadêmicos e especialistas, com base de dados que cobre 202 países desde o ano de 1789.

Pilares que evitaram o colapso democrático


Para Fernandes, a resistência democrática brasileira se apoiou em três eixos fundamentais. O primeiro foi a força da sociedade civil. “A primeira foi a força da sociedade civil, que conseguiu pôr gente na rua, em uma aliança entre vários grupos sociais distintos, para defender o Estado democrático de direito. Nos Estados Unidos, contra Donald Trump, não se vê gente na rua, a não ser episodicamente”, observou o pesquisador.

O segundo fator foi a atuação decisiva do sistema judicial, sobretudo no enfrentamento aos atos golpistas. “O Poder Judiciário conseguiu levar Bolsonaro a tribunal pela tentativa de golpe de Estado”, pontuou Fernandes, referindo-se aos processos em curso no Supremo Tribunal Federal (STF) e à responsabilização de militares e apoiadores envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023.

O terceiro ponto foi a articulação política durante as eleições de 2022, que culminou na vitória de Lula. “Criou-se uma frente pró-democracia. Mesmo partidos do ‘centrão’, frequentemente associados à corrupção, romperam com Bolsonaro e passaram para o lado da democracia nas eleições de 2022”, explicou.

Desafios

Embora o Brasil seja hoje visto como um dos países que mais se distanciaram do autoritarismo, o discurso bolsonarista, ainda presente na oposição, acusa o Judiciário de governar com mão de ferro. “Trata-se de um discurso simplificado de ódio, facilitado por uma visão de mundo bipolar, entre nós e eles”, rebateu Fernandes.

Ele chamou atenção ainda para o fato de que o risco autoritário não está totalmente afastado: “Esse movimento autoritário pode voltar algum dia, apoiando outra personalidade política do tipo Bolsonaro”.

Leia também:

Reinaldo Azevedo: Ou se está com o Brasil e contra Bolsonaro ou se está com Bolsonaro e contra o Brasil

 

Da Rádio BandNews FM:




O ataque da Casa Branca e a traição interna: Brasil entre o cerco internacional e o sabotador doméstico. Artigo de Elisabeth Lopes, advogada e pedagoga

 

O Brasil enfrenta não apenas uma crise diplomática e econômica, mas uma grave tentativa de desestabilização política e institucional

    Donald Trump e Lula (Foto: Reuters | ABR)


247. - O Brasil está sob ataque de um imperialismo em crise, num mundo que já não comporta mais o unilateralismo. Não há retorno viável ao domínio decadente dos Estados Unidos sobre os demais países. A tentativa de minar a soberania das potências emergentes, especialmente por meio da apropriação de reservas estratégicas de minerais, como o nióbio, o lítio e as chamadas terras raras, das quais o Brasil detém 25% das reservas mundiais e de enfraquecer os mecanismos nacionais de proteção frente aos interesses das Big Techs, que manipulam a autodeterminação das subjetividades, revela a nova face do conflito geopolítico global. Além disso, o impacto da influência dos Brics no cenário mundial e a crescente projeção do Brasil nessa organização desafia a hegemonia estadunidense. Como agravante, de acordo com o jornalista Jamil Chade, do site Vero Notícias, análises da inteligência brasileira apontam para suspeitas crescentes de que estejam em curso ações estratégicas de desestabilização do governo Lula, supostamente articuladas pela CIA com o aval da Casa Branca. Trata-se, ao que tudo indica, de uma tentativa de preparar o terreno político para a eleição de 2026, favorecendo a ascensão de um aliado fiel aos interesses de Washington. O conjunto desses fatores estão entre as subjacentes razões das ameaças de Trump, como símbolo da tentativa de reimpor a lógica de supremacia americana.

Nessa perspectiva, o desumano, inelegível e antipatriota, que agora apela, em tom de clemência, com um choro ensaiado é apenas um instrumento da política de sanções promovidas por quem se considera o mais temido líder global. No entanto, a chantagem trumpista ao usar Bolsonaro como desculpa teve um efeito colateral imprevisto: serviu para unir o povo brasileiro no repúdio à mesquinhez da família que, ao longo dos anos, saqueou os cofres públicos com golpes que variam do vulgar ao abjeto, culminando na tentativa de colocar em risco a integridade soberana do próprio país.

Nesses tempos turbulentos, o Brasil tem girado em torno de consertar os efeitos dos problemas causados pelos desvarios cometidos por Trump e seus auxiliares: Bolsonaros e asseclas. Esses impropérios têm sobrecarregado o Poder Judiciário na defesa da constitucionalidade e o Poder Executivo que além de ocupar-se com a reconstrução do que foi deliberadamente destruído durante o desgoverno de Jair Messias, está envolvido com as negociações para evitar as consequências nocivas à economia brasileira, caso vigore o tarifaço.

A onda bolsonarista estimulou a eleição de parlamentares substancialmente desqualificados, à imagem e semelhança de Bolsonaro e de seus filhos que vivem dos cargos públicos, sem oferecer nenhuma contribuição legislativa digna. São figuras beligerantes, despreparadas e abusivamente oportunistas em favor de causas que os beneficiem exclusivamente. Elegem-se com discursos populistas, mas defendem causas corporativistas do mercado, omitindo propositalmente a realidade do país em meio à profunda desigualdade social perpetuada por um sistema econômico concentrador de renda a partir de uma herança escravocrata e latifundiária, de uma educação desigual marcada pela exclusão, de um modelo tributário injusto fortalecido pela submissão do poder político ao poder econômico. 

Esses políticos da extrema direita e direita fisiologista exploram a ingenuidade de pessoas em situação de desamparo. Em vez de oferecerem políticas públicas concretas que possam melhorar a vida dessa população, fazem promessas vazias, reforçando um ciclo de alienação. Instalados no Congresso, utilizam seus mandatos para desviar recursos públicos em favor de interesses próprios. Patrocinados pelas máfias corporativas interessadas em angariar vantagens pra si, atuam em detrimento das demandas populares e do desenvolvimento estrutural do país.

As consequências do desserviço criminoso provocado pelo clã detrator da nação junto ao governo Trump ameaçam a estabilidade econômica do país, o cerne de uma variedade de setores produtivos e o emprego de milhares de trabalhadores estão sob risco. O cenário é complexo pela proporção dos prejuízos que podem advir, se a alíquota de 50% sobre os produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos perseverar ao que tudo indica, uma vez que, nenhuma resposta foi dada ao governo brasileiro acerca das duas cartas de negociações enviadas ao governo americano em 16 de maio e na semana passada, entre outras tratativas. Restam poucos dias até a validação do tarifaço, e não há qualquer indício de recuo nas sanções.

Essa química deletéria entre os extremistas da direita brasileira e americana uniu o útil ao oportunismo imperialista. De um lado um governo estrangeiro autoritário, intervencionista e interessado em tirar vantagens inescrupulosas por meio de chantagens descabidas, de outro um país que tem vivido sob tensionamentos desde o impeachment da presidente Dilma, atravessado por seis anos de governos liberais de Michel Temer e Jair Bolsonaro, e por um congresso composto majoritariamente por parlamentares da extrema direita de perfil fascista e de uma direita que oscila de lado conforme conveniências utilitárias.

O impacto potencial dessas sanções não pode ser subestimado. Os Estados Unidos representam um destino estratégico para exportações brasileiras, e uma interrupção brusca nesse fluxo comercial pode causar dificuldades econômicas expressivas para o país que, apesar da alta taxa Selic de 15%, a segunda maior do mundo, inferior apenas a da Turquia com 14,4%, vinha apresentando índices de crescimento surpreendentes diante das previsões.

Diante das dificuldades, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad reafirmou o compromisso do governo brasileiro em manter-se à mesa de negociação. Segundo ele, não há justificativas técnicas ou políticas para a imposição de sanções ao Brasil. O governo também está construindo um plano de contingenciamento em relação às empresas mais afetadas para que os prejuízos sejam minorados. Soma-se a essa medida, os inúmeros encontros do vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Geraldo Alckmin, com setores atingidos pelo tarifaço.

Esses esforços têm sido massivos e envolvem também uma comitiva multipartidária composta por oito senadores que viajarão a Washington para esclarecer os parlamentares americanos sobre os riscos das sanções para ambos os países. Porém, Eduardo Bolsonaro ao saber dessa iniciativa fez nova investida tentando influenciar os parlamentares americanos a não receberem a comitiva. Mais do que isso: declarou nas redes sociais que a iniciativa está “fadada ao fracasso” e que “não há sequer início de discussão sem anistia ampla, geral e irrestrita”. A postura nefasta e de traição aos interesses do Brasil dessa figura pretenciosa e abominável passou dos limites.

Nesta semana, com o encerramento de sua licença parlamentar, o deputado que pretende permanecer nos Estados Unidos, solicitou ao Partido Liberal apoio para manter-se no mandato. Entre as alternativas, os aliados aventaram a possibilidade de Eduardo ser convidado para um cargo no Executivo estadual com exercício no Exterior. Essa artimanha permitiria a ele renovar a licença parlamentar para o exercício no novo cargo. 

A desfaçatez tem sido a tônica desses extremistas. Eduardo Bolsonaro dobrou a aposta contra o ministro Alexandre de Moraes, afirmando, em uma live, que pretende tirá-lo do Supremo Tribunal Federal. E como se não bastasse, expressou que os presidentes das duas casas do Congresso Nacional, também estão no radar de Trump. 

Há também, a tentativa de atribuir ao governo Lula a culpa pelas sanções impostas por Trump com a alegação de que existe um distanciamento do governo brasileiro em relação ao governo trumpista. A atuação, principalmente, do partido liberal é marcada pela permanente lesão à verdade. Nas últimas semanas, o partido tem feito investimentos pesados em produção de fake news com o fim de confundir a opinião pública sobre a verdadeira origem das sanções.

Em 21de julho, o líder do PL, Sóstenes Cavalcante, à revelia do recesso parlamentar, realizou uma reunião emergencial na Câmara para planejar estratégias após a operação da Polícia Federal contra o réu Bolsonaro. A reunião foi um fracasso, reunindo apenas 28 deputados e dois senadores. Nesse dia, num ato de submissão ao governo americano, ostentaram um cartaz nas dependências da Câmara de deputados, com o slogan de Trump Make America Great Again. Apesar dessas provocações do PL o recesso foi mantido pelo deputado Hugo Motta. Porém resultou mais uma vez numa articulação encenada pelo réu Bolsonaro à Suprema Corte com o fim de criar constrangimento às últimas medidas cautelares impostas a ele. Bolsonaro continua esticando a corda ao máximo com o objetivo de mobilizar manifestações contrárias às decisões da justiça por meio dos velhos argumentos de perseguição política, de censura à liberdade de expressão.

Diante do descumprimento das medidas cautelares impostas pela Primeira Turma do STF, o ministro Alexandre de Moraes convocou a defesa de Bolsonaro. Seus advogados alegaram que ele “não teve a intenção de desobedecer” às ordens judiciais. Embora houvesse especulação sobre sua prisão, Moraes, com cautela e estratégia, decidiu não decretar a prisão, por ora.

Enquanto a extrema direita esperneia em suas tramas corrosivas, o presidente Lula segue o caminho oposto. Participou, no Chile, do encontro “Democracia Sempre”, ao lado dos presidentes da Colômbia, Espanha e Uruguai O evento abordou temas centrais como a defesa da democracia e do multilateralismo; o combate às desigualdades; e o enfrentamento à desinformação digital. Após o encontro, Lula referiu: “Neste momento em que o extremismo tenta reeditar práticas intervencionistas, precisamos atuar juntos. A defesa da democracia não cabe somente aos governos. Requer participação ativa da academia, dos parlamentos, da sociedade civil, da mídia e do setor privado”. 

A poucos dias do desfecho da ameaça da tarifa arbitrária sobre o Brasil, tomou conta da mídia americana e internacional o escândalo envolvendo Donald Trump no caso Jeffrey Epstein, bilionário acusado por tráfico sexual de menores, condenado e morto em 2019. Trump está na lista de Epstein. Esse episódio está mexendo com os nervos de Trump. Resta saber se essa fúria sobrará para mais retaliações em tarifaços aos países na tentativa de distrair a atenção de sua associação a Epstein. 

Essas suspeitas, somadas às revelações de possíveis ganhos financeiros indevidos por investidores com acesso privilegiado a anúncios tarifários dá para depreender em que terreno movediço pisam os países nas tentativas de negociações econômicas com o país governado por essa figura grotesca, marcada por tantas suspeitas e por atos reais de chantagem que imprime ao Brasil para liberar um réu sobre o qual perduram provas robustas de tentativa de ruptura do Estado de Direito. Réu que acumula outros atos infames e cruéis: contra a vida dos brasileiros na pandemia, contra o meio ambiente, fraude nos seus registros de vacinação contra a covid-19, ganhos com a venda de joias presenteadas ao país, ataques ao processo eleitoral, criação da Abin paralela, do gabinete do ódio, aparelhamento das instituições, entre outras ilegalidades. 

Diante de tantos elementos que se sobrepõem, das ameaças externas às traições internas, da ingerência norte-americana às manobras do clã Bolsonaro, fica evidente que o Brasil enfrenta não apenas uma crise diplomática e econômica, mas uma grave tentativa de desestabilização política e institucional. O tarifaço imposto por Donald Trump representa mais do que uma retaliação comercial, é a expressão de um imperialismo que se recusa a aceitar a emergência de um novo protagonismo internacional, especialmente de países do Sul Global organizados em blocos como os BRICS. Enquanto isso, no plano interno, figuras como Eduardo Bolsonaro seguem operando como elos desse projeto imperialista, sabotando ações do governo brasileiro, traindo o próprio país em nome de interesses pessoais. A tentativa de desqualificar as instituições democráticas e enfraquecer a soberania nacional não é apenas um ataque político é uma afronta ao país. Ainda assim, a resposta da sociedade brasileira tem sido vigorosa, inclusive apoiada pelos senadores americanos opositores ao governo Trump. A união de diferentes setores em torno da legalidade, do multilateralismo e dos princípios democráticos indica que, há resistência. O governo brasileiro, embora ameaçado age de modo propositivo e soberano.

Derrotar e deslegitimar o bolsonarismo para salvar a Democracia. Artigo de Aldo Fornazieri, Professor da Fundação Escola de Sociologia e Política e autor de "Liderança e Poder"

 

O bolsonarismo trata as forças democráticas, progressistas e de esquerda como inimigas. Quer destruí-las. Age na democracia para destruir a democracia.


    Donald Trump e Jair Bolsonaro foram alvos dos manifestantes (Foto: Paulo Pinto / Agência Brasil)


Com o fim da Segunda Guerra Mundial, o nazismo e o fascismo não só foram derrotados, mas foram também deslegitimados. A derrota foi em vários campos. A vitória das forças aliadas ocidentais e da União Soviética no front do Leste implicou numa derrota militar avassaladora ao Eixo constituído pela Alemanha, Japão e Itália. A derrota foi de tal ordem que as ideologias que buscavam legitimar esses regimes ficaram sem sustentação política e militar.

O processo de deslegitimação foi catapultado, principalmente, pela divulgação mundial das atrocidades que esses regimes cometeram contra inimigos externos e também contra populações e oposições internas. O Holocausto e as atrocidades ali praticadas foram o ponto mais alto da barbárie daqueles projetos políticos e ideológicos.

A condenação internacional dos crimes de guerra teve no Tribunal de Nuremberg um repúdio em nome do Humanismo e dos valores civilizacionais. Essa condenação estabeleceu uma interdição política, ideológica e moral ao nazismo e ao fascismo em, praticamente, todos os países do mundo, mesmo com as suas diferentes ideologias e diferentes sistemas e formas de governo.

Na esteira desse processo, nas democracias ocidentais, se fortaleceu um consenso de que era necessário garantir direitos aos trabalhadores, inclusão e bem-estar. Esse entendimento foi sacramentado na ideia e na construção do Estado de bem-estar social.

Com essa deslegitimação do nazismo e do fascismo, essas ideologias não morreram, mas submergiram por décadas, sofrendo até mesmo interdições legais. No final do século XX, já existiam sinais de seu ressurgimento através de organizações e agrupamentos extremistas de direita. Mas foi no início do século XXI que esses agrupamentos se tornaram mais assumidos, mais explícitos e mais ativos em disputas políticas, ideológicas e eleitorais. Quer dizer: buscaram relegitimar-se em diversas partes do mundo. Se afirmaram com mais força e ousadia nas democracias ocidentais.

Donald Trump, Bolsonaro, Viktor Orbán, Bukele, entre outros, se tornaram expressões públicas, partidárias e eleitorais mais conhecidas de uma série de grupos, partidos, movimentos, formuladores e ativistas dessas ideologias que assumiram várias formas matizadas. Hoje trabalham para construir articulações mundiais, buscando maior coerência, unidade e eficácia. Muitos analistas e pensadores foram surpreendidos por esse ressurgimento, pois, com a queda da União Soviética, acreditava-se que as democracias liberais estavam garantidas indefinidamente e que aquelas ideologias extremistas estavam mortas.

O Brexit, a vitória de Trump, de Bolsonaro, entre outros, e o fortalecimento dos partidos de extrema-direita em vários parlamentos são, não apenas fatos perturbadores, mas sinais de que existe uma crise profunda e de que o mundo está transitando de uma era política para outra, sem que esse futuro tenha qualquer garantia de seu desenho, de seu conteúdo e de sua forma. É aquela velha advertência de Antonio Gramsci: “o velho está morrendo e o novo ainda não pode nascer”.

Hoje existe uma batalha campal pelo domínio do novo período civilizacional. Ela envolve várias frentes: valores, ideologias, tecnologias, mercados, influências, corrida espacial, Big Techs, comida, água, rios, mares, florestas, terras raras, ecologia, metahumanismo, genética, biopolítica etc. As forças que estão nessa guerra campal ainda estão se alinhando, definindo seus rumos, suas armas, suas estratégias.

No trânsito do século XX para o século XXI não ocorreu apenas o colapso da União Soviética e uma crise do marxismo e das esquerdas. A democracia liberal também entrou em crise. O neoliberalismo foi uma tentativa de resposta, um epifenômeno da crise do liberalismo. O neoliberalismo provocou uma tensão extrema da democracia liberal, testando os seus limites.

Muitos analistas de esquerda afirmam que a emergência da extrema-direita se deve à crise do neoliberalismo. Mas não é só isso: é também o resultado da incapacidade do liberalismo e das esquerdas promoverem saídas para a crise das democracias. Incapacidade de oferecer soluções para os desafios ecológicos, econômicos, sociais, políticos, culturais e tecnológicos. A extrema-direita ressurgiu nas brechas, nas fendas deixadas pela ausência dessas alternativas, dessas incapacidades de renovar a democracia, os direitos, a igualdade e a liberdade.

Em 2022, o bolsonarismo sofreu uma derrota eleitoral, mas não política. O mesmo ocorreu com Trump quando foi derrotado por Biden. Nem os Democratas nem o sistema judiciário norte-americano se dispuseram a derrotar política e ideologicamente e a punir Trump e o trumpismo, mesmo com os acontecimentos trágicos da invasão do Capitólio.

No Brasil, a tragédia negacionista da pandemia, o golpismo recorrente de Bolsonaro durante seu governo e a tentativa explícita de golpe no final de 2022 e início de 2023 não estimularam as forças democráticas e progressistas a deslegitimar o bolsonarismo. Apenas o STF agiu com firmeza com o objetivo de derrotar o golpismo. O preço dessa inação dos democratas e progressistas é a permanência do bolsonarismo como força política significativa na disputa política e eleitoral.

Mas agora, com a traição e com a chantagem que a família Bolsonaro e os bolsonaristas estão promovendo contra o Brasil, estimulando o tarifaço de Trump, surge uma ocasião extraordinária para derrotar politicamente o bolsonarismo e deslegitimá-lo moralmente. O bolsonarismo não é uma força de direita que possa ser tratada como adversária no âmbito do jogo democrático. O bolsonarismo precisa ser tratado como uma força inimiga, que precisa ser derrotada e deslegitimada.

O bolsonarismo trata as forças democráticas, progressistas e de esquerda como inimigas. Quer destruí-las. Age na democracia para destruir a democracia. É inimigo da ordem republicana e democrática. É inimigo do STF porque, hoje, ele é o pilar fundamental da garantia do Estado de Direito e da Constituição. Quer derrubar e, se possível, eliminar os ministros do STF que são os mais ativos no combate ao golpismo.

Vivemos numa conjuntura em que não é possível impor uma interdição legal ao bolsonarismo e ao extremismo de direita. Mas é possível impor uma derrota política e uma deslegitimação moral, reduzindo sua influência na sociedade e seu espaço de manobra no meio político. É esta a ocasião que a traição e a chantagem dos bolsonaristas, associados ao tarifaço punitivo e ilegítimo de Trump, oferecem. A omissão nessa tarefa pode custar caro às forças progressistas e à democracia.

Aldo Fornazieri – Professor da Escola de Sociologia e Política e autor de "Liderança e Poder".

sexta-feira, 25 de julho de 2025

CASO EPSTEIN E MAIS ESCÂNDALOS ENVOLVENDO DONALD TRUMP - LUIS NASSIF

 

Da TV GGN:




Senadores dos EUA acusam Trump de abuso de poder por tarifas contra o Brasil

 

Onze senadores democratas dos Estados Unidos (EUA) acusaram o presidente Donald Trump de “claro abuso de poder” ao ameaçar impor tarifas de 50% sobre as importações brasileiras. Em carta enviada à Casa Branca nesta quinta-feira (24), os parlamentares dizem que a medida visa interferir em processos judiciais no Brasil em benefício do ex-presidente e seu amigo, Jair Bolsonaro

Do ICL Notícias:

Internacional

Senadores dos EUA acusam Trump de abuso de poder por tarifas contra o Brasil

Democratas dizem que sanções favorecem Bolsonaro e alertam para risco de guerra comercial

Onze senadores democratas dos Estados Unidos (EUA) acusaram o presidente Donald Trump de “claro abuso de poder” ao ameaçar impor tarifas de 50% sobre as importações brasileiras. Em carta enviada à Casa Branca nesta quinta-feira (24), os parlamentares dizem que a medida visa interferir em processos judiciais no Brasil em benefício do ex-presidente e seu amigo, Jair Bolsonaro.

Segundo o documento, Trump estaria usando “todo o peso da economia americana” para pressionar o governo brasileiro e enfraquecer o sistema legal do país. Os senadores alertam que a retaliação brasileira pode elevar os preços de produtos nos EUA, afetar cerca de 130 mil empregos e estreitar os laços entre Brasil e China.

“Escrevemos para expressar sérias preocupações sobre o claro abuso de poder presente em sua recente ameaça de iniciar uma guerra comercial com o Brasil. (…) Interferir no sistema legal de uma nação soberana estabelece um precedente perigoso, provoca uma guerra comercial desnecessária e coloca cidadãos e empresas americanas em risco de retaliação”, apontam.

A carta destaca que os EUA têm superávit comercial com o Brasil desde 2007 e que as ameaças não se referem a questões econômicas legítimas, mas a uma tentativa de interferência política. O grupo também critica sanções impostas por Trump a autoridades judiciais brasileiras que atuam no caso Bolsonaro.

Nesta sexta-feira (25), uma comitiva de senadores brasileiros embarca para os EUA para tentar abrir um canal de negociação, mas, segundo o Planalto, Trump vetou qualquer diálogo da Casa Branca com os brasileiros. A escalada de tensões ganhou mais um capítulo com declarações do presidente Lula, que reafirmou a soberania do Brasil sobre seus recursos naturais diante do interesse americano por minerais estratégicos.

“Temos todo o nosso petróleo para proteger. Temos todo o nosso ouro para proteger. Temos todos os minerais ricos que vocês querem para proteger. E aqui ninguém põe a mão. Este país é do povo brasileiro”, disse o presidente.

Trump

Carta de senadores dos EUA enviada para Trump sobre tarifas impostas ao Brasil (Foto: Reprodução)

Leia a íntegra da carta enviada por senadores democratas a Donald Trump:

Prezado presidente Trump,

Escrevemos para expressar sérias preocupações sobre o claro abuso de poder presente em sua recente ameaça de iniciar uma guerra comercial com o Brasil. Os Estados Unidos e o Brasil têm questões comerciais legítimas que devem ser discutidas e negociadas. No entanto, a ameaça de tarifas feita por sua administração claramente não se refere a isso. Tampouco se trata de um déficit comercial bilateral, já que os EUA tiveram um superávit de US$ 7,4 bilhões em bens com o Brasil em 2024 e não registram déficit comercial com o país desde 2007.

Na verdade — como o senhor afirma explicitamente em sua carta ao presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva — a ameaça de impor tarifas de 50% sobre todas as importações do Brasil e a ordem para que o Representante de Comércio dos EUA inicie uma investigação sob a Seção 301 da Lei de Comércio de 1974 têm como principal objetivo forçar o sistema judiciário independente do Brasil a interromper a acusação contra o ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro.

Interferir no sistema legal de uma nação soberana estabelece um precedente perigoso, provoca uma guerra comercial desnecessária e coloca cidadãos e empresas americanas em risco de retaliação. O Sr. Bolsonaro é um cidadão brasileiro sendo processado nos tribunais brasileiros por ações alegadamente cometidas sob jurisdição nacional. Ele é acusado de tentar minar os resultados de uma eleição democrática no Brasil e de planejar um golpe de Estado.

Usar todo o peso da economia americana para interferir nesses processos em favor de um amigo é um grave abuso de poder, enfraquece a influência dos EUA no Brasil e pode prejudicar nossos interesses mais amplos na região. O anúncio de sua administração em 18 de julho de 2025, de sanções de visto contra autoridades judiciais brasileiras envolvidas no caso do Sr. Bolsonaro, indica — mais uma vez — a disposição de sua administração em priorizar sua agenda pessoal em detrimento dos interesses do povo americano.

Suas ações aumentariam os custos para famílias e empresas americanas. Os americanos importam mais de US$ 40 bilhões por ano do Brasil, incluindo quase US$ 2 bilhões em café. O comércio entre EUA e Brasil sustenta cerca de 130 mil empregos nos Estados Unidos, que estão em risco diante da ameaça de tarifas elevadas. O Brasil também prometeu retaliar, e o senhor prometeu retaliar em resposta — o que significa que os exportadores americanos sofrerão e os impostos sobre importações para os americanos aumentarão além do nível de 50% que o senhor ameaçou.

Uma guerra comercial com o Brasil também aproximaria o país da República Popular da China (RPC) em um momento em que os EUA precisam combater agressivamente a influência chinesa na América Latina. Empresas estatais e ligadas ao Estado chinês estão investindo fortemente no Brasil, incluindo vários projetos portuários em andamento. Recentemente, o China State Railway Group assinou um Memorando de Entendimento para estudar um projeto ferroviário transcontinental.

Essas considerações não são exclusivas do Brasil. Em toda a América Latina, a RPC está trabalhando para ampliar sua influência por meio da Iniciativa do Cinturão e Rota. Estamos preocupados que suas ações para minar um sistema judicial independente apenas aumentem o ceticismo em relação à influência americana na região e deem mais credibilidade à agenda de autoridades e empresas estatais chinesas. A mesma tendência também está ocorrendo no Leste e Sudeste Asiático.

Os objetivos principais dos EUA na América Latina devem ser o fortalecimento de relações econômicas mutuamente benéficas, a promoção de eleições democráticas livres e justas e o combate à influência da RPC. Instamos o senhor a reconsiderar suas ações e a priorizar os interesses econômicos dos americanos, que desejam previsibilidade — não outra guerra comercial”.

Atenciosamente,

Tim Kaine, Senador dos Estados Unidos
Jeanne Shaheen, Senadora dos Estados Unidos
Adam B. Schiff, Senador dos Estados Unidos
Richard J. Durbin, Senador dos Estados Unidos
Peter Welch, Senador dos Estados Unidos
Kirsten Gillibrand, Senadora dos Estados Unidos
Mark R. Warner, Senador dos Estados Unidos
Catherine Cortez Masto, Senadora dos Estados Unidos
Michael F. Bennet, Senador dos Estados Unidos
Jacky Rosen, Senadora dos Estados Unidos
Raphael Warnock, Senador dos Estados Unidos